Acesso Livre
2014-2018: A Cronologia da Saída de José Eduardo dos Santos em Artigos (Certeiros) do AM Intelligence
A evolução do processo de transição política aberto em Angola com a retirada do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos (JES) e sua substituição por outro, João Lourenço (JL) tem vindo a confirmar, nos seus principais aspectos, parte substancial da informação e análise sobre o tema veiculada pelo Africa Monitor Intelligence. O facto, apresenta AM na dianteira de qualquer outro serviço de informação do seu género atento ao assunto, como demonstra a seguinte compliação:
AM Intelligence 840, 02.Mai.2014 – A nomeação de JL como ministro da Defesa (antes, vice-Presidente da Assembleia Nacional), é interpretada como podendo tê-lo posicionado como candidato à “sucessão presidencial”. Factores relevados: circunstâncias políticas em que ocorreu a nomeação e o seu perfil político e individual.
AM 872, 04.Set.2014 – O cenário de uma futura ascensão de Manuel Vicente (MV) ao cargo de Presidente, é encarada com cepticismo crescente. Não goza de suficientes apoios internos e a sua personalidade não se ajusta ao cargo. (Esta percepção altera-se a seguir, AM 886, 23.Out.2014, mas apenas temporariamente).
AM 914, 12:Fev.2015 – É duvidosa a pretensa inclinação de JES por um dos seus filhos, José Filomeno dos Santos “Zenú”, como candidato à sua própria substituição. O lançamento do nome terá correspondido à intenção de confundir a questão da sucessão. Rsssurgimento de dúvidas em relação à hipótese MV.
AM 974, 13.Out.2015 – JL goza de boa aceitação entre os dirigentes, quadros e bases do MPLA, mas também no regime, incluindo Forças Armadas. Exerce o cargo de MD com mais autonomia e protagonismo do que os seus antecessores. Despacha directamente com JES e não com o chefe da Casa Militar. Tem participado em fora internacionais e regionais em representação de JES.
AM 998, 12.Jan.2016 – Admite-se que JES ainda não tenha abandonado a ideia de se recandidatar às eleições de 2017. JL apareceria nas listas em segundo lugar, o que o destinaria ao cargo de Vice-Presidente. As eventuais hesitações de JES decorrem de pressões familiares e de círculos internos próximos de si.
AM 1020, 29.Mar.2016 – Considerados implausíveis rumores recentemente ressurgidos acerca da intenção de JES de promover o filho, JFS “Zenu” como seu substituto ao cargo presidencial.
AM Flash 8, 15.Nov.16 – JES deixou subentendida numa reunião do BP/MPLA que está determinado a retirar-se da vida política, já não se apresentando às eleições de 2017. JL, identificado como sendo a figura preferida por JES e por sectores influentes do regime para se apresentar às eleições como candidato a Vice Presidente, é apontado no novo quadro como estando destinado a ser ele próprio candidato a Presidente. JES faz tenção de se manter como Presidente do MPLA até um congresso do partido, em 2018, assim correspondendo à vontade publicamente manifestada de se retirar nesse ano da vida política. Completaria, assim, um processo de retirada a iniciar com a sua não apresentação como candidato às eleições presidenciais.
AM 1109, 24.Ago.2017 – É escassa a consistência de pontos de vista segundo os quais será delicada a futura coexistência política entre JL e JES devido a supostos planos do ainda Presidente para manter o controlo de sectores da economia, finanças e de áreas mais sensíveis, como as Forças Armadas ou a Segurança. A intenção de JES de a breve prazo se afastar também da presidência do MPLA é atribuída a razões como a sua debilitada saúde e cuidados que a mesma requer; a uma noção interior de que um exercício bicéfalo do poder como aquele a que a sua manutenção à frente do partido conduziria, cedo daria azo a incompatibilidades mútuas que não só não estaria em condições de suportar, devido à sua saúde e ao declínio político em que começou a entrar, como não deseja, por poderem ser prejudiciais à linha de boa vontade e cooperação que quer seguir em relação a JL.
AM 1117, 19.Out.2017 – JES tem vindo a manifestar a intenção de se afastar a curto prazo da liderança do partido. Assinalada a existência de uma corrente interna nos principais órgãos dirigentes do partido que se movimenta no sentido de o pressionar a retirar-se.
AM 1120, 09.Nov.2017 – As mudanças que se vêm registando em Angola desde o início de funções do novo Presidente, correspondem a um processo de renovação politica, económica e social do país – de antemão esperado, mas não ao ritmo e ao alcance que se está a verificar.
AM 1137, 15.Mar.2018 – A figura da bicefalia do poder tem diminuto cabimento na actual realidade política angolana, em especial quando é apresentada como ameaça potencial à estabilidade. O afastamento de JES do cargo de presidente do MPLA, por via de um congresso partidário ou de um acto de apresentação voluntária da sua demissão, é apontado em meios políticos angolanos como um desenvolvimento capaz de esvaziar especulações sobre a bicefalia do poder, consideradas prejudiciais à superação da crise económica e financeira em que o país se encontra. Com base neste princípio, figuras de primeiro plano do regime têm posto em marcha iniciativas destinadas a convencer JES a retirar-se da liderança do partido e a fazer-se substituir por JL.
AM 1139, 29.Mar.2018 – JES terá decidido afastar-se a breve prazo da presidência do MPLA em consequência do ambiente contrário à sua permanência com que deparou na última reunião do CC do partido. O seu intento era retirar-se mais tarde. Ao aperceber-se de que não lhe era favorável o sentido da maior parte das intervenções, JES, citado pelo Jornal de Angola, reagiu dizendo, “se querem que eu saia, eu saio”. A inclinação que JES intimamente revela quanto ao modo de se afastar, é a de se demitir, invocando razões de ordem pessoal.