Africa Monitor

Acesso Livre

Paulo Guilherme

Ramos-Horta, diplomacia “em directo” e interactiva para a Guiné-Bissau

Ramos-Horta, diplomacia “em directo” e interactiva para a Guiné-BissauSe o sucesso da missão de José Ramos-Horta na Guiné-Bissau, enquanto representante da ONU, se medisse em “likes” no facebook, estava desde já garantido. Através de um blogue (http://ramoshorta.com/) e das redes sociais, o enviado especial está a partilhar a sua experiência no terreno, inaugurando um género de diplomacia “em directo” e plena de interacção com os cidadãos e amigos da Guiné-Bissau.

Ramos–Horta chegou a Bissau na madrugada de 13 de Fevereiro, considerando que “é necessário mais apoio da comunidade internacional para o povo guineense”. Nessa manhã, pode ler-se no “post” da chegada a Bissau, o representante da ONU iniciou uma série de contactos de modo a cumprimentar as autoridades guineenses. “O Prémio Nobel da Paz mostrou-se confiante e garante que vai trabalhar com todas as franjas da sociedade de forma a desenvolver programas de desenvolvimento, sobretudo a partir da juventude”, refere o mesmo texto.

Antes de embarcar para Bissau, Ramos-Horta esteve em Adis Abeba na 20ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana. A um dia do encontro na capital etíope, entrevistado pelos jornalistas, José Ramos Horta disse acreditar que as eleições para colocar fim à crise política na Guiné deverão acontecer até ao final de 2013.

Na página do Facebook do ex-chefe de Estado timorense, são visíveis as inúmeras mensagens de apoio deixadas pelos seus seguidores. Apesar de a missão ser em Bissau, o povo de Timor vê o trabalho de Ramos–Horta como uma afirmação da posição de Timor no seio da CPLP.

“Os filhos da nação e os jovens estão muitos felizes, pois verifica-se que num Estado tão pequeno, os residentes são líderes mundiais. O cargo de enviado especial do SG da ONU é um orgulho para Timor-Leste e para os filhos da nação. Deus está sempre consigo, professor”, comentou Alexandre Pires.

A sua “bagagem” política foi um factor decisivo na nomeação uma vez que Ramos-Horta foi primeiro-ministro e Presidente da República de Timor e em 1996, partilhou com D. Ximenes Belo o Prémio Nobel da Paz, pelo seu esforço na procura de uma solução pacífica para o conflito no seu país.

A utilização da internet e de sites de redes sociais, aparentam ser instrumentos importantes para a divulgação do trabalho que vai ser realizado no terreno não só para o povo timorense, como para qualquer pessoa que se interesse pelo processo de pacificação guineense.

Num texto, no seu site, escrito na primeira pessoa, Ramos-Horta partilha alguns dos primeiros sentimentos na cidade de Bissau. “As expectativas são muito altas. Os problemas parecem não ter solução”. O texto em questão foi escrito alguns dias após o desembarque do ex-chefe de Estado timorense. Ramos-Horta confessou que o coração lhe dói cada vez que pensava na família, no país e nos amigos que deixou do outro lado do mundo, embora demonstre ter perfeita noção da missão que o levou a África.

É perceptível que Ramos-Horta quer passar uma mensagem de um verdadeiro clima de segurança que, neste momento se viverá, deixando escapar também que o problema existente era somente político-militar uma vez que os civis “são incrivelmente pacientes, calorosos, amigáveis e inocentes” e que “a criminalidade é a mais baixa de todo o continente. As ruas são seguras, a qualquer hora do dia ou da noite". Considerou mesmo poder dispensar algum pessoal de segurança.

A reacção da população ao texto tornou-se clara ao ser replicado para o Facebook. Quase uma centena de pessoas partilhou o texto. Antes de concluir dizendo que este ano vai ser longo e de se questionar se vai conseguir ajudar o país a chegar a uma paz duradoura, Ramos-Horta conta que no dia em que foi ao mercado, ao ir embora um jovem gritou, agarrando nas suas mãos: “Ramos-Horta! Eu sou tu…tu és eu…tu és nós! Por favor ajuda este país”.