Acesso Livre
Usar receitas petrolíferas na diversificação, desafio para a economia angolana
Dez anos de estudo e de experiência no sector petrolífero angolano levaram Patrício Wanderley Quingongo a identificar as causas das persistentes debilidades do sector, que apesar dos milhares de milhões de receitas geradas não conseguiu promover a diversificação da economia - pelo contrário acentuou a dependência. No seu primeiro livro sobre o sector, Quingongo identifica como principais constrangimentos actuais o declínio da capacidade de manutenção da produção e a volatilidade dos preços.
“É preciso trabalhar na alavancagem da produção. Por outro lado é preciso aprender a lidar com os preços baixos e usar as receitas petrolíferas para alavancar a necessária diversificação da economia”, disse Quingongo a Africamonitor.net, na véspera do lançamento de “Gestão da Indústria Petrolífera”, em Luanda.
A diversificação, considera, é a melhor forma a “contrapor a `doença Holandesa´, a dependência a um único recurso, e a `maldição dos recursos´. Apesar de ser um país rico em recursos naturais, Angola permanece pobre em termos de desenvolvimento”.
O livro aborda também a questão da formação e da promoção de quadros angolanos. “Embora a Sonangol e o Ministério dos Petróleos disponibilizem bolsas de estudos para a formação de Quadros, não existe um plano de formação adequado e sério que permita integrar esses quadros de forma efectiva e eficaz na indústria do petróleo e gás do país”, afirma Quingongo.
“Neste momento, os recursos humanos disponíveis não são ainda suficientes para o processo de angolanização que se pretende”, adiantou ao Africamonitor.net.
Resultado de um estudo, realizado em 2016 no mestrado de Gestão Internacional de Petróleo e Gás, na Universidade de Liverpool (Reino Unido), o livro envolveu recolha de informação e entrevistas realizadas pelo autor aos serviços técnicos das companhias que operam no território nacional.
Para João Ricardo Rodrigues, editor da Perfil Criativo, o livro vem mostrar que “a indústria do petróleo e do gás, em Angola, não utilizou as melhores práticas de gestão”, facto que “pode ser o verdadeiro responsável pelos maus resultados financeiros desta indústria, privando a administração pública de recursos fundamentais para o desenvolvimento do país”.
“Temos noção de que este é um tema sensível, nesse sentido, foi nossa preocupação garantir que esta informação, agora publicada em livro, não fosse mais gasolina para a fogueira, nem um mero instrumento de caça às bruxas. O nosso desejo é de que seja uma ferramenta de reflexão, e que as sugestões apresentadas para superar os principais problemas de gestão nesta esfera possam constituir um válido contributo para a indústria e para o país”, afirma.
Na obra, Quingongo afirma que “o governo foi incapaz de gerir os ganhos inesperados do petróleo, criar um mecanismo para distribuir eficientemente as crescentes receitas petrolíferas e transformá-las em melhor qualidade de vida para o povo, diversificar a economia e reduzir os níveis de pobreza e desigualdade”.
“Por isso, Angola precisa de aumentar o nível de transparência nas transacções petrolíferas e assim reduzir a corrupção, desenvolver programas de formação de quadros nacionais para eficazmente melhorar o programa de angolanização e a promoção do conteúdo local”, adianta.
Mestre em MSc. Gestão Internacional de Petróleo e Gás pela Universidade de Liverpool, Quingongo trabalhou 7 anos para a Companhia Petrolífera Internacional ExxonMobil (Esso Angola) no Departamento de Operações Petrolíferas.
A obra será apresentada a 29 de Junho no Edifício Kilamba, Luanda.