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O "dinossauro" Museveni e os "Coices de Cavalo Moribundo"
Coincide esta coluna com a contagem de votos em mais uma eleição africana de fachada, desta vez no Uganda. Mais uma eleição presidencial que conservará no poder um dirigente-dinossauro: Yoweri Museveni, 76 anos de idade, no poder desde 1986.
Mais uma vez também, acumulam-se indícios de viciação de resultados. O popular candidato anti-regime, Robert Kyagulanyi Ssentamu (conhecido como Bobi Wine), foi detido várias vezes durante a campanha. Com 38 anos, tem exactamente metade da idade do presidente ex-guerrilheiro. Por falta de acesso aos meios de comunicação social, Wine baseou a sua campanha na internet. Para o anular, o governo de Uganda ordenou nos últimos dias que todos os provedores de internet do país bloqueiem o acesso às redes sociais (Facebook e Twitter) e aos aplicativos de mensagem mais populares, incluindo o WhatsApp.
Jovem e de verbo fácil, Wine é um líder que tem arrastado multidões onde quer que vá. A nova geração - a vasta maioria da população do país - identifica-se com a sua mensagem: um Uganda “novo e livre onde qualquer um pode estar em desacordo com quem estiver no poder”. Estima-se que cerca de 80% da população do Uganda tem menos de 30 anos.
Por detrás de candidatos carismáticos como Wine está uma juventude mais consciente dos seus direitos, muitas vezes com formação superior. Jovens que contrastam a falta de oportunidades e liberdades nos seus países não apenas com a realidade dos países mais desenvolvidos, mas agora também com a de países africanos onde os direitos são uma realidade, as eleições transparentes e os seus resultados respeitados. Onde os jovens têm, efectivamente, voz.
O condicionamento da oposição do Uganda, com recurso a violência e ao aparelho repressivo do Estado, tem paralelo em grande parte da África Subsaariana, incluindo em países como Angola ou Moçambique, onde as eleições têm servido apenas para conservar no poder as elites herdeiras dos movimentos de independência. Onde o desenvolvimento é uma miragem e os indícios de fraude eleitoral mais que muitos.
Cada vez mais, a violência parece ser a única resposta eficaz de regimes presos nas suas próprias disputas internas - usando a corrupção como arma de arremesso em purgas internas, desacreditando-se ainda mais aos olhos do cidadão comum - e fixados na sua conservação no poder a qualquer preço, frequentemente contra uma juventude que exige mudanças e oportunidades. Seja em Luanda, Maputo, Harare ou Kampala.
Durante uma das suas detenções, Wine comparou a repressão de que tem sido alvo a "coices de um cavalo moribundo" (Link Twitter). Estará realmente em causa a sobrevivência destes regimes ou será o seu controlo sobre a máquina repressiva do Estado suficiente para silenciar uma juventude inquieta? Quanto tempo ainda conseguirão os dinossauros africanos, e os regimes que os sustentam, conservar-se no poder?