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Nova “número um” da CPLP com legado difícil

Nova “número um” da CPLP com legado difícil


A nova secretária executiva da CPLP recebe do seu antecessor, Murade Murargy, um legado difícil, que um analista classifica mesmo de “desastroso”. Maria do Carmo Trovoada Silveira, cujo nome foi avançado em março pelo África Monitor Intelligence em primeira mão, já esteve em Lisboa.

Segundo o Africa Monitor Intelligence de hoje, a futura “número um”, que vai liderar a organização nos próximos dois anos, depois de os membros africanos da organização terem rejeitado aplicar os estatutos que conferiam a nomeação a Portugal, esteve discretamente em Lisboa para se “inteirar” de aspectos das funções que passará a desempenhar bem como das condições inerentes.

Ex-primeira ministra e governadora do Banco Central de São Tomé e Príncipe (BCSTP), é formada em economia na Ucrânia, então ainda parte integrante da ex-URSS, e foi na banca que sempre exerceu a sua actividade profissional, de acordo com a mesma fonte. Será a segunda mulher a presidir à organização. Em vez de 4 anos, o seu mandato será de apenas 2, cabendo os outros dois a Portugal.

Chegará à liderança da organização na próxima cimeira, numa altura em que “crise” é a palavra de ordem nos principais países da organização, de forma mais aguda em Angola, Moçambique e também no Brasil. Tanto a nível económico, como político.

Depois da disputa pública causada pela questão da nomeação do novo secretário executivo, em que Portugal se viu isolado perante um bloco africano que havia previamente concertado posições, e teve de recuar na sua intenção e direito estatutário de nomear, também na CPLP reina o mal-estar.

Segundo o Africa Monitor Intelligence, na sequência do episódio da nomeação sucederam-se na CPLP episódios de desconsideração em relação a Portugal, especialmente sentido entre funcionários portugueses, que quotidianamente lidam com provenientes de outros Estados membros e com o próprio funcionamento interno da organização.

Paulo Gorgão, analista do Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS), afirma que a nova líder “não terá vida fácil”. “O legado que lhe deixa Murade Murargy, o ainda secretário executivo da CPLP, é desastroso (…) encontrará na CPLP feridas e divisões de que não há memória nos mandatos dos secretários executivos que antecederam Murargy e para as quais, por acção ou omissão, o próprio muito contribuiu”, afirma em comentário hoje publicado pelo IPRIS.

“Não deixa de ser irónico que, sendo Murargy um diplomata, por vezes a sua conduta se tenha assemelhado mais à de um pirómano. Terá Maria do Carmo Silveira a sensibilidade e a capacidade para sarar estas feridas? No mínimo, tendo em conta a sua experiência de vida e política, nada aponta em sentido contrário. Será certamente um dos dois grandes desafios que lhe vão marcar o mandato no próximos dois anos”, adianta Gorjão.

Para o analista, a CPLP precisa dar prioridade ao aprofundamento institucional, “mas as divergências do passado não podem voltar a repetir-se”. Ao mesmo tempo, há “focos de potencial tensão política” nos vários países-membros.

“Ao contrário de Murargy em relação à Guiné-Bissau, ou na gestão do roteiro de integração da Guiné Equatorial na CPLP, espera-se que a futura secretária executiva assuma uma posição mais activa e de maior bom senso”, diz Gorjão.

Uma “batata quente nas mãos” de Silveira será A Nova Visão Estratégica da CPLP (2016-2026)”, a aprovar na cimeira de Brasília. Um maior envolvimento do Brasil, que exerce a próxima presidência, é importante, mas “não será fácil, dado o reiterado desinteresse do Itamaraty na CPLP, bem como a conturbada situação política que se vive no Brasil”.