Acesso Livre
Notas do Editor: O País que "esqueceu" o processo de Manuel Vicente - e arrestou Isabel dos Santos
1. Fará, dentro de poucos meses, 2 anos desde que a Justiça portuguesa, sob ameaças de toda a ordem de Angola contra o Estado português, decidiu remeter para Luanda o processo contra Manuel Vicente, acusado de corrupção de um magistrado.
Este processo ("Fizz"), hoje seguramente a ganhar pó nalgum armário bafiento da PGR em Luanda, foi julgado em Portugal, tendo levado à condenação do referido magistrado, com abundante prova. Recorde-se que, segundo a acusação, o magistrado teria recebido "luvas" para deixar cair uma investigação a Vicente por branqueamento de capitais em Portugal.
Ironicamente, com o mesmo vigor com que fez vergar o Governo e a diplomacia portuguesas, para que a Justiça portuguesa cedesse a enviar o processo para Luanda - conzudindo ao previsível fim - decreta agora o Governo angolano o arresto de bens de Isabel dos Santos - que, dos detentores de fortunas do país, é talvez a única que tem activos produtivos importantes (UNITEL, Sodiba, cimenteiras, BFA, entre outros).
Isabel dos Santos esforça-se para se apresentar como vítima de perseguição. Apesar da óbvia diferença de tratamento em relação a Vicente, dificilmente assim será vista. Para além da questão do favorecimento (e dos empréstimos públicos de que beneficiou), e que explicam a origem da sua fortuna, há erros próprios no corte que fez com a PGR, excluindo uma negociação.
2. Filipe Nyusi inicia agora o seu segundo mandato como PR de Moçambique, certamente mais consciente das suas limitações do que há 5 anos. Curiosamente, a palavra mais repetida pelo chefe de Estado e pelo partido é "paz", tal como em 2014. Se então a paz era com Afonso Dhlakama, agora é com a Junta Militar. Desde então, o país conheceu outro conflito, ainda mais grave, em Cabo Delgado, que não dá sinais de abrandamento.
"Paz" rima com "Gás", que irá marcar o mandato de Nyusi a nível económico. Em fase de agitação, as "famílias" da FRELIMO deverão agora convergir em torno do presidente, que tem em mãos uma década de forte de crescimento económico, graças aos projectos em curso em Cabo Delgado.
3. Domingos Simões Pereira recusa-se a aceitar a derrota nas eleições presidenciais da Guiné-Bissau. Com algum desatino, vai até acusando a imprensa francófona de estar contra ele, por não dar as notícias como acha que devem ser dadas.
As instituições guineenses são frágeis e altamente permeáveis. O resultado da disputa judicial aberta por "DSP" é incerto. Mas, por agora, esta disputa mostra uma nova face do líder do PAIGC, habitualmente polido e urbano.
A eleição de Umaru Sissoco Embaló foi um murro no estômago para a diplomacia dos países ocidentais - para a portuguesa, mais do que qualquer outra. E faz antever mais alguns anos de instabilidade no país.