Africa Monitor

Acesso Livre

Paulo Guilherme

Notas do Editor: Um Milagre de Natal Africano

Notas do Editor: Um Milagre de Natal Africano

“Reconciliei-me com África numa viagem a Cabo Verde”, costuma dizer-me um amigo angolano, que viveu nas fileiras do MPLA a revolução de Agostinho Neto - e que teve de fugir do país em 1975, pois descobriu que o seu nome estava numa lista de "traidores" a eliminar.
Nas minhas várias idas a Cabo Verde, tenho-me lembrado destas palavras. E relembro-as agora, neste período natalício e de festejar o Novo Ano.
Cada vez que vou a Cabo Verde encontro o país um pouco melhor. E não há melhor barómetro do que não ver crianças a pedir nas ruas, mas sim naquele saudável vai-vem da escola, com brincadeira. Diz mais do que muitos números - onde, aliás, Cabo Verde também tem brilhantismo.
O pós-independência de Cabo Verde é um verdadeiro milagre, sobretudo se pensarmos que este é um país que não tem petróleo, como Angola, ou carvão, como Moçambique. Talvez por ter pouco mais do que mar, praias e solo árido, as suas gentes tiveram de trabalhar (e estudar) muito para terem hoje um futuro .

No outro arquipélago lusófono, São Tomé e Príncipe, bem mais complicadas estão as coisas para o Governo de Jorge Bom Jesus. Conforme damos conta no último Africa Monitor Intelligence, a escolha dos novos parceiros externos está a abrir brechas no MLSTP e no próprio Governo.
Na Guiné-Bissau, o novo ano trará um novo presidente - Domingos Simões Pereira ou Sissoco Embaló. Com José Mário de Vaz fora de jogo (ou, melhor, a jogar nos bastidores), traçamos o perfil de Biague Na Ntan, chefe de Estado Maior das Forças Armadas, que apesar da sua proximidade em relação ao presidente cessante, de quem chegou a ser adido militar, travou pressões no sentido de um envolvimento dos militares numa perigosa escalada da tensão política em vésperas da primeira volta das presidenciais.

Ainda no Africa Monitor Intelligence, os últimos desenvolvimentos da situação de segurança em Cabo Delgado - e as implicações políticas do descontrolo. No campo económico, também a tendência é de degradação, nomeadamente no Sector Extractivo. Em termos empresariais, Dino Foi é uma figura em ascensão, em grande parte devido às suas ligações aos nigerianos do Access Bank, conforme relatamos.

Quanto a Angola, também a situação económica dá poucos sinais de melhoria. No sector financeiro, são as próprias políticas do BNA (e do FMI…) a acentuar as fragilidades da banca. No sector da construção, as coisas correm de feição para alguns interesses angolanos - em detrimento de estrangeiros - conforme damos conta.

 

Em 2020, Cabo Verde será, novamente, o país lusófono a crescer mais rápido - acima de 5%, segundo a última previsão do FMI. Mais importante que isso, vai resolvendo os seus problemas, e o desemprego jovem talvez seja o maior deles. Ainda esta semana, o Governo cabo-verdiano e a IBM assinaram um acordo que prevê a capacitação de 10 mil jovens na economia digital. Uma de muitas iniciativas em curso para criar riqueza e emprego na nova economia.

Nesta quadra natalícia, faço votos de que o exemplo de sucesso caboverdiano se replique por muitos outros países africanos.

Um Feliz Natal para todos. E que o Ano Novo seja, como em Cabo Verde, de trabalho que dá frutos.