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Notas do Editor: A internacionalização do conflito de Cabo Delgado
Filipe Nyusi gosta de lançar "pombras brancas". No seu primeiro mandato, o presidente moçambicano fez acordos com o lider histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, e ainda com o sucessor deste, Ossufo Momade. O mais recente, assinado há pouco mais de um mês.
O "arquitecto da paz", era como José Eduardo dos Santos gostava de ter passado à história. Nyusi também, mas a "casa" arquitectada tem fundações pouco sólidas.
Não só a "pomba" Nyusi-Momade foi alvejada pouco depois de lançada - pela "Junta Militar" de Mariano Nhongo, que recusa entregar as armas, acusando o novo líder da RENAMO de traição - como a situação em Cabo Delgado tem vindo a agravar-se.
Desde o início, Nyusi e a FRELIMO resistiram a pedir ajuda internacional, apesar das múltiplas ofertas, para combater os "jihadistas" que ameaçam os projectos de gás natural na região. E foram entretendo empresas privadas de segurança norte-americanas, sul-africanas e russas, conforme fomos dando conta no Africa Monitor. Nyusi esteve há pouco mais de um mês em Moscovo. E é esperada uma participação moçambicana de alto nível na Cimeira Rússia-África, dentro de 15 dias em Sochi.
Em círculos diplomáticos, o conflito de Cabo Delgado é cada vez mais comparado com o da Nigéria, envolvendo o Boko Haram. Com as FADM em dificuldades no terreno - apesar das várias ofensivas, a mais recente, na semana passada, relatada no Africa Monitor - o conflito em Cabo Delgado tem cada vez mais contornos internacionais. De "jihadistas" tanzanianos e congoleses no terreno, a tentativas de "apadrinhamento" do conflito pelo Estado Islâmico. E, agora, com informações sobre a chegada de militares russos ao terreno - o jornalista José Milhazes, especialista em assuntos russos, fala de 160 elementos de forças especiais, com objectivo de instalar uma base naval permanente.
Entretanto, as energéticas russas parecem cada vez mais próximas de entrar no petróleo e gás moçambicanos.
Em Angola, também nas Forças Armadas o clima é tenso, em particular entre as chefias e a presidência. Tanto que a nomeação de um novo chefe de Estado Maior se tornou inevitável para João Lourenço, conforme relatamos no Africa Monitor.
Cabinda está também a converter-se numa preocupação para Lourenço, tanto que a actividade local do SINSE é cada vez mais intensa.
No plano diplomático, destaque para a gorada visita de João Lourenço à Casa Branca - ou mesmo um mais modesto encontro do presidente angolano com Trump à margem da Assembleia Geral da ONU. E também para a nomeação do novo embaixador de Portugal em Luanda.
Na Guiné-Bissau, as atenções convergem para Nuno Gomes Nanbian, que apesar de representar um dos mais pequenos partidos com representação parlamentar, se tornou no "fiel da balança" política.
Foco ainda no Africa Monitor para os negócios em São Tomé e Príncipe - no sector energético - e em Cabo Verde - no imobiliário, com profundas ramificações políticas.