Acesso Livre
Notas do Editor: A longa espera dos angolanos
As economias não crescem por decretos presidenciais. Ou por programas desenhados em gabinetes ministeriais - nem sequer os elaborados com os melhores ficheiros Excel, conforme as ideias, conceitos e políticas do FMI e afins.
As economias crescem quando o Estado, as empresas e as pessoas têm meios e confiança para produzir, consumir e investir. O dilema de Angola hoje é que há um excesso de programas de desenvolvimento - a par de falta de meios e de confiança. Tantos programas que cada um parece mais uma espécie de "balão de oxigénio" para mostrar que o Governo está consciente dos problemas do país.
A produção, essa continua a resumir-se, grosso modo, à petrolífera - que está em queda.
Os últimos dados do INE confirmam aquilo que é mais ou menos óbvio para quem olhe hoje para as ruas (ou os restaurantes, ou os hóteis...) de Luanda e compare com as suas memórias de há 2,3 5 ou mais anos atrás: a economia angolana continua a definhar. As previsões para o conjunto do ano são, na melhor das hipóteses, de crescimento modesto ou estagnação. Na pior, 2019 será ano de nova recessão.
O optimismo e o pessimismo continuam a ser grátis em todo o mundo. O favoritismo também. Portanto, é fácil argumentar a favor de que a economia vai recuperar - tal como de que não vai. O que é facto é que aquilo que acontecer no resto do ano dependerá muito mais do preço do barril de Brent do que dos PRODESIs e programas quejandos lançados pelo Governo.
A nível externo, o "corte" simbólico de João Lourenço com o passado do seu antecessor (corrupção, compadrio, nepotismo) mereceu incentivos geriais. Mas não gerou a vaga de investimento estrangeiro que se previa. Sobretudo porque o investidor olha sempre, antes de mais, para as previsões de crescimento no país em causa (más, neste caso). E preocupa-se com a possibilidade de repatriar os lucros que vier a ter (difíceis, ainda). E talvez vá ainda ver se o Estado em causa é bom pagador (não é).
A nível interno, o "corte" de Lourenço elevou as expectativas. O combate aos "marimbondos" iria libertar recursos para o crescimento económico, de que toda a população iria benificiar. Mas não libertou. E não beneficiaram. E assim caminham as coisas para (quase) meio do mandato do "exonerador implacável". Conforme desenvolvemos no Africa Monitor, começam a avolumar-se sinais de instabilidade.
Parte importante dessa instabilidade é sentida nos meios judiciais, com impacto ao nível dos casos contra figuras da elite política e empresarial.
Em Moçambique, a instabillidade assume outra gravidade, com a continuação de ataques armados em Cabo Delgado. Os impactos para os projectos de gás natural já se fazem sentir.
Ainda no Africa Monitor, foco para a questão das negociações de paz com a Renamo. E também para os preparativos para as eleições de Outubro.
No nosso "radar", a dependência energética de São Tomé e Príncipe. Na Guiné-Bissau, o cenário para as eleições presidenciais do final do ano, após a candidatura de Carlos Gomes Junior.
A não perder ainda, os diferentes momentos de Marrocos eTunísia na sua relação com os vizinhos europeus.