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Notas do Editor: As crises e os militares
Na avalanche diária de indicadores relativos à economia angolana (PIB, previsões do PIB, câmbio do kwanza, barril de brent), há um recente que tem passado despercebido, mas bastante revelador: o produto (PNB) per capita.
Antes da crise, um angolano levava para casa, em média, mais de 5.000 dólares anualmente. Hoje, leva à volta de 3.300 dólares. Traduzindo estes dados do Banco Mundial, um casal angolano passou a ter de viver com menos 3.400 dólares por ano. Isto, para os que mantiveram o emprego - que nos últimos dois anos subiu quase 9 pontos percentuais, aproximando-se dos 30 por cento.
Claro que a divisão do produto pela população reflecte o crescimento desta, tal como o desemprego é influenciado pela expansão forte da população activa. Mas a situação é de emergência social, e esta está à vista de todos nas ruas de Luanda. Os expatriados, que antes enchiam os melhores restaurantes da Ilha, serão hoje metade ou menos do que foram há alguns anos. Os preços, que já foram os mais elevados do mundo para expatriados, já começaram a recuar.
A situação é transversal a todos os sectores, e não poupa os mais sensíveis, como o das forças armadas. E é tanto mais delicada quanto é evidente a insatisfação - e mesmo a crescente falta de autoridade - do actual chefe de Estado Maior das FAA, General Egídio de Sousa Santos "Disciplina", conforme relatamos na última edição do Africa Monitor. Papel principal vai tendo um outro general, Fernando Miala, director dos serviços de informações (SINSE), concretamente nas detenções de ex-dirigentes e militares, mais recentemente do seu antecessor, o general José Maria.
Também na Guiné-Bissau as atenções viram-se crescentemente para as Forças Armadas, cujo historial de golpes de Estado é longo. Apesar de os últimos 5 anos de turbulência política não terem degenerado em violência militar, são crescentes as evidências de altos responsáveis militares e políticos nos tráficos que hoje lamentavelmente movimentam grandes quantias no pequeno país - e, mais grave ainda, as suspeitas de que a instabilidade política seja o objectivo de quem enriquece com estes tráficos - à cabeça de todos, o de drogas. E no meio da instabilidade, eis que emerge em Bissau uma figura famosa, em Angola, pelas piores razões - Vincent Miclet.
Em momento de abertura económica em Cabo Verde, o negócio da saúde, e em particular a privatização da Emprofac, capta importantes interesses, colocando frente a frente uma família próxima do poder e uma empresas portuguesa. Uma outra empresa portuguesa emerge em São Tomé e Príncipe como potencial nova parceira do Estado são-tomense na STP Airways - substituindo a também portuguesa EuroAtlantic.
Mais ameno deverá ser o frente-a-frente desta semana em Lisboa entre Filipe Nyusi e presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Mas são muitos e complexos os assuntos que o presidente moçambicano deixa em Maputo, desde a participação do Estado no negócio do gás natural até à reestruturação das dívidas EMATUM/ MAM/ Proindicus.