Acesso Livre
Notas do Editor: Nyusi manda?
Todo o mandato de Filipe Nyusi como Presidente de Moçambique foi um processo de afirmação. E continua a sê-lo, a pouco mais de 4 meses do final do mandato.
Aliás, o seu caso é inédito, no sentido de ter "saltado" directamente do Comité Central para a presidência, sem passar pela elite do partido, a Comissão Política.
Foi uma afirmação que teve altos e baixos. Entre os altos, os avanços que as negociações de paz com a Renamo foram conhecendo. Entre os diversos baixos, a forma como até recentemente se passearam impunemente os principais responsáveis pelas dívidas ocultas.
E é só depois da detenção em Janeiro na África do Sul de Manuel Chang, seu antigo colega de Governo durante a presidência de Armando Guebuza, que a Justiça moçambicana dá alguns passos para, pelo menos na forma, se punir os responsáveis pela falência do país.
Muito provavelmente, não se passará da forma. Infelizmente, esses responsáveis não tarda estarão cá fora outra vez. Mas esse poderá ser um passo decisivo na afirmação de Nyusi.
Demonstrando uma apreciável capacidade de manobra política - ou valendo-se da de Celso Correia, ultimamente discreto, mas sempre activo - conseguiu no Comité Central da Frelimo, no início de Maio, sair como candidato do partido às eleições, mesmo com diversas pré-candidaturas a negociar apoios nos bastidores até à véspera. E ainda para mais sob ameaça de uma dissidência, de Samora Machel Jr., que poderia ter tido custos eleitorais para o partido.
Desde que Nyusi retirou a "asa" protectora dos agentes-empresários do SISE, de próximos de Guebuza e de membros do anterior Governo, começaram a chover documentos visando incriminá-lo (até agora, nada de substancial que tenhamos visto). Haverá mais? Estranho é que, na entrevista desta semana ao Canal de Moçambique, Nyusi não consiga dar uma resposta directa à pergunta também directa "recebeu dinheiro das dívidas ocultas?".
Essa é uma nuvem que continuará a pairar.
Do tempo em que demonstrou complacência com os responsáveis pelas dívidas ocultas, ficou outro dano - os negócios que aqueles continuaram a fazer. Nomeadamente com Erik Prince, de que temos dado conta no Africa Monitor. Esta semana, falamos da intrincada questão da Tunamar.
Ainda na edição desta semana, olhamos para a banca em Angola - e como os investidores internacionais, ao contrário do que o Governo desesperadamente pretende, não olham com interesse para o sector. Falamos também do rol de ministros a prazo, com um novo nome na lista.
Outro projecto empresarial a que temos dado atenção é o de David Chow em Cabo Verde, um dos maiores em curso no arquipélago - e que irá transformar a lindíssima marginal da Praia para sempre (mas seguramente não para melhor, com a sua torre de 14 andares em cima da praia da Gamboa). Será um dos maiores, mas bem mais modesto do que inicialmente previsto.
Finalmente, neste Africa Monitor uma "viagem" à "Revolução de Jasmim" tunisina - e como as perturbações políticas estão a afectar a projecção do país no resto do continente, ao contrário do que está a acontecer em Marrocos.