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Notas do Editor: João Lourenço e o futuro
Há alguns meses, num almoço restrito com dois embaixadores (em Luanda e em Lisboa) de uma potência internacional, em que Angola era "prato principal", um deles disparou-me a pergunta: "quão séria acha que é esta campanha anti-corrupção?". Cepticamente, respondi que seria tão séria quanto a necessidade de captação de financiamento internacional o exigisse.
Para quem, como o autor destas linhas, vem de uma família luso-angolana (daquelas feitas de gente de tez de todos os matizes de café - do "galão" ao puro...) foi preciso, a bem da imparcialidade de análise, conter uma certa expectativa de que os esforços anti-corrupção de que falava João Lourenço fossem reais, e não aparentes.
Como muitos outros observadores da realidade angolana, no AM demos o benefício da dúvida, mesmo perante sinais de que estes esforços eram baseados mais na utilidade do que nos princípios. A saber, a utilidade de minar o poder da família do ex-presidente José Eduardo dos Santos, e a utilidade de renovar a imagem do país no exterior, muito danificada pela corrupção, elevando Lourenço, "o exonerador", à popularidade doméstica. E, à boleia dessa nova imagem, conseguir novos apoios para o investimento e financiamento de que o país precisa para sair da persistente crise económica.
Esses objectivos têm vindo a ser atingidos. E, conforme temos vindo a dar conta no Africa Monitor, com novos elementos esta semana, uma nova fase da "luta anti-corrupção" começa a emergir. Nos meios judiciais inicialmente mais comprometidos com a mesma, instala-se agora a percepção de que foi tudo "para inglês ver". E que a breve trecho as figuras do regime que viram os seus nomes implicados em casos de corrupção podem seguir o mesmo rumo de Jean-Claude Bastos de Morais - a liberdade.
Se, por um lado, isto pode afectar a credibilidade do regime a nível internacional, por outro pode permitir aliviar um pouco a tensão entre a elite política e militar, que tem estado a nível elevado. Um primeiro sinal de distensão foi a saída do país de José Eduardo dos Santos e de Leopoldino do Nascimento, no tão falado voo da TAP para Lisboa.
Noutras geografias lusófonas, há desenvolvimentos importantes na disputa entre Moçambique e a Privinvest, que vendeu ao anterior governo o projecto de segurança marítima financiado com as "dívidas ocultas". De outros barcos, esses bastante mais operacionais, damos conta numa análise sobre a recente concessão dos transportes marítimos à portuguesa Transinsular, artigo que incide também pela nova Cabo Verde Airlines, que será capitaneada pela islandesa Icelandair. Finalmente, apresentamos também o novo homem forte de Teodoro Obiang para a Economia.
No acesso livre do nosso site, a não perder esta recensão do novo livro do oficial português Luís Brás Bernardido sobre a formação das FAA e seu papel regional.
Boa e Santa Páscoa.