Africa Monitor

Acesso Livre

Paulo Guilherme

Notas do Editor: Tiro(s) de partida para as eleições moçambicanas

Notas do Editor: Tiro(s) de partida para as eleições moçambicanas

Dentro de pouco mais de um mês, os moçambicanos vão votar. Para a presidência e, pela primeira vez, para os governos provinciais. O tiro de partida foi dado no dia 31 de Agosto. A ida às urnas é a 15 de Outubro.

Para consternação geral, contudo, este "tiro de partida" não será nos próximos meses o único tiro em Moçambique. Estas serão eleições debaixo de fogo.

Apesar do Acordo de Paz, a Junta Militar da Renamo promete causar insegurança. Isto enquanto em Cabo Delgado a situação permanece fora de controlo para o governo, conforme temos dado conta no África Monitor. Tanto que as empresas de segurança privada já estão bem instaladas na região.

Não será, infelizmente, em paz, que os moçambicanos irão votar. Nem a presença do Papa Francisco - de que a Frelimo tentará tirar partido - poderá mudar esse cenário.

O resultado eleitoral, esse já se começou a desenhar lá atrás, com a manipulação de registos eleitorais em províncias-chave. Além de esta ser uma eleição sem paz, os seus resultados não serão, por assim dizer, "à prova de bala". Pelo contrário, serão seguramente contestados pela oposição.

E quando, no final, Renamo (e Junta Militar) não reconhecerem os resultados, para onde irá este novo acordo de paz?
 

Do outro lado do continente, em Angola, a tensão também vai crescendo. Neste caso, dentro do regime. José Eduardo dos Santos permanece fora do país, sem sinais de regressar. As suas filhas Isabel e "Tchizé" comportam-se cada vez mais como "vítimas de perseguição." E esta disputa está a tornar-se até em negócio para os mais afoitos.

A economia continua a ser um problema, e a jogar contra João Lourenço, no passa-culpas com o clã dos Santos. No meio da agitação, e em função da sua capacidade para se alinharem com o novo(-velho) regime, as empresas, vão-se tornando numa espécie de "danos colaterais", como temos dado conta no Africa Monitor.
 

As últimas semanas foram também particularmente agitadas em Bissau, onde se desenha um duelo a duas voltas entre 3 pesos-pesados, e São Tomé, que procura relançar projectos de infra-estruturas. Na habitualmente pacífica Praia, ainda se digere o inaudito atentado contra o presidente da câmara.

É há mais África além da Lusofonia, desde uma Londres a encaixar o continente na sua estratégia pós-Brexit, a uma  Rabat cada vez mais relevante na região, mas turbulenta. Este será um final de ano particularmente agitado no continente. Mantenha-se por perto do Monitor, nós mantê-lo-emos informado.