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Notas do Editor: Pompa e Circunstâncias do novo-velho MPLA
Seguramente, este não era o 2º aniversário de início de mandato que João Lourenço imaginava. A presença do presidente angolano e da primeira-dama, Ana Dias Lourenço, no final de setembro no faustoso casamento da filha de Fernando Dias dos Santos ("Nandó") - um "marimbondo"... - caiu mal na sociedade angolana.
Caiu mal, porque a vasta maioria dos angolanos não tem hoje quaisquer razões para festejar. Caiu ainda pior, pois essas mesmas pessoas não têm sequer com que festejar. Falta o dinheiro para colocar o pão (ou farinha) sobre a mesa.
O luxo da boda que Lourenço abrilhantou trouxe à memória as célebres festas nos tempos áureos de José Eduardo dos Santos, quando se cozinhava com Moet Chandon. Foi o "velho" regime a mostrar que não é assim tão velho, nem mudou, como caiu em voga dizer. Que, entre a elite política e militar, os laços de amizade e família se sobrepõem a conceitos de equidade. Com ou sem família dos Santos.
Justiça seja feita a Lourenço: manteve discreta a sua presença na boda, provavelmente já antevendo as críticas ao fausto da cerimónia, num período de tantas carências.
Entre as conquistas dos últimos dois anos, talvez a liberdade de expressão seja a mais notória. Mas foi também o velho regime a mostrar-se, perante uma sucessão de manifestações e protestos pacíficos convocados este mês. Foi o próprio Lourenço a usar da palavra no Congresso da Juventude do MPLA, para dizer que os jovens que pretendiam faltar ao trabalho no dia 11, como forma de protesto, não eram "bons jovens". Acusou mesmo os mentores do protesto de receber dinheiro dos "marinbondos", interessados em criar instabilidade.
Desta vez, a ameaça parece ter funcionado. Mas será que vai funcionar por muito mais tempo? Será que os jovens sem emprego e sem perspectivas, cujas esperanças foram alimentadas pelas "reformas" de Lourenço, continuarão a ficar em casa? Certo, é que o regime está preocupado com este facto, e a dura resposta ao protesto pacífico de 11 de outubro demonstra-o à saciedade.
Na nova ministra das Finanças, Vera Daves, depositam-se agora expectativas de introdução de políticas que afastem o país da recessão - que parece ser cada vez mais uma certeza este ano. A sua entrada coincidiu também com uma nova postura do Ministério das Finanças na questão das dívidas às empresas estrangeiras, conforme damos conta no Africa Monitor. Muito do sucesso da sucessora de Archer Mangueira dependerá daquilo que vier a acontecer no sector petrolífero, que se aproxima agora do decisivo momento dos novos leilões.
Em Moçambique, a FRELIMO já dá como certa a vitória sobre um apagado Ossufo Momade, e o próximo Governo começa até a ganhar forma, em termos de saídas e entradas dos pesos-pesados. O próximo governo Nyusi herdará muitos problemas, mas também um "presente" de centenas de milhões de dólares de mais-valias da venda da participação da Occidental à Total, na Bacia do Rovuma.
No Africa Monitor, damos também conta do curioso caso da consultora jurídica e financeira Centurion, que com uma mensagem de "Pan-africanismo" vem tentando chamar a si negócios petrolíferos, incluindo na África lusófona. E a quem não faltam aliados influentes.
Atenção também a Cabo Verde, onde o "dossier" da CV Telecom tem finalmente solução à vista, preparando-se a entrada de um novo parceiro.