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Nigéria precisa de dinheiro angolano na Guiné-Bissau

Nigéria precisa de dinheiro angolano na Guiné-Bissau


A posição do novo governo nigeriano quanto ao envolvimento de Angola na Guiné-Bissau está a ser aguardada com atenção pelos analistas. Por um lado, a Nigéria, que tem sido o principal financiador do processo mas agora se debate com uma crise económica e financeira, precisa do dinheiro angolano. Por outro, mostra reservas ao regresso da influência de Luanda na região.

Gustavo Plácido dos Santos, analista do Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS), afirma que a recomposição política em Bissau após as últimas eleições motivou receios no seio da CEDEAO de que as novas autoridades governamentais seguissem a linha de Carlos Gomes Júnior – “aproximar-se novamente de Angola e da CPLP”.

“Isto porque não só foi o actual Presidente, José Mário Vaz, ministro das Finanças no governo de Carlos Gomes Júnior, como o primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, é o líder do PAIGC—partido de Carlos Gomes Júnior—e foi secretário- -geral da CPLP—onde Angola se insere. No entanto, tal não se concretizou e as novas autoridades guineenses deram aparentemente prioridade aos seus parceiros regionais”, afirma em artigo recente para o IPRIS.

Brasil, Portugal e Angola também estiveram na agenda de contactos internacionais. Para “retomar progressivamente o processo das relações de cooperação no domínio da defesa”, em Fevereiro, o ministro dos Negócios Estrangeiros guineense deslocou-se a Luanda”, onde se reuniu com o seu homólogo angolano e o Vice-Presidente Manuel Vicente.

“Angola não foi completamente colocado em segundo plano. Não obstante a prioridade ser claramente fortalecer laços com países regionais—provavelmente de forma a impedir um cenário semelhante ao de Abril de 2012—, as novas autoridades em Bissau reconhecem a importância da participação angolana na estabilização e desenvolvimento do país”, afirma Plácido dos Santos.

Com a CPLP arredada da reforma do sector de segurança e defesa guineense desde o golpe de há três anos, tem sido a comunidade regional a assumir os custos da manutenção de uma força em Bissau, a ECOMIB. Hoje, a maior parte deles enfrenta dificuldades económicas e financeiras que levem a que queiram partilhar o custo da operação. Neste contexto, Angola é uma possível “mais-valia”.

“Uma das prioridades do regime de Luanda tem sido continuar a investir nas Forças Armadas. Considerando a sua capacidade militar e a experiência da integração de combatentes rebeldes nas Forças Armadas nacionais, torna-se clara a vantagem em ter uma Angola activa na reforma dos sectores de defesa e segurança da Guiné-Bissau”, afirma o investigador do IPRIS.

A participação angolana, e consequente aumento de influência em Bissau pode ser difícil de digerir, sobretudo para a Nigéria, que sempre se mostrou avessa a ter militares de um rival africano num país-vizinho. Mas a necessidade de apoio financeiro, difícil de encontrar, pode falar mais alto.

A reforma é considerada essencial para a consolidação da ordem constitucional e da estabilidade, e a situação ainda é delicada. Para Plácido dos Santos, “as causas estruturais que levaram ao golpe de estado de 2012 permanecem por resolver”, embora “ganhe força a possibilidade da manutenção de Bissau no rumo certo e sem percalços de maior”.

Os militares, considera, “têm agora menos poder e influência sobre as autoridades civis”, sobretudo após a exoneração de António Indjai, chefe das Forças Armadas e líder do golpe de Estado de 2012, e a nomeação para o seu lugar do chefe da guarda presidencial e homem de confiança do Presidente, o General Biague Na Ntan. A intervenção dos Estados Unidos no combate ao narcotráfico também terá servido de aviso a muitos oficiais.

Entretanto, as redes criminosas parecem mais dedicadas a novos tráficos, como o das madeiras.
Este mês, o governo guineense anunciou medidas para combater o fenómeno.