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Moçambique: De Bom Aluno a Bom Malandro
Os mais neófitos nos assuntos africanos acharão talvez bizarro, mas Moçambique já foi considerado pelos parceiros internacionais um "bom aluno" entre os países africanos, sobretudo na governação de Joaquim Chissano. Longe de o país ter sido, nesse período, um modelo a qualquer nível, mas entre as organizações internacionais e representações diplomáticas prevalecia o entendimento de que havia um esforço sério para melhorar a governação, combater a corrupção, melhorar o nível de vida.
Tudo começou a mudar durante o mandato de Armando Guebuza - ou, como era conhecido nos corredores, pela sua frenética actividade empresarial, "Guebusiness". Actividade essa que envolvia figuras hoje proeminentes como Celso Correia ou Salimo Abdulá. Actividade essa que terminou com estrondo no escândalo das dívidas escondidas dos moçambicanos e dos parceiros internacionais.
O ranking anual da Transparência Internacional (TI) dá uma percepção da corrupção e da evolução da imagem do país. Moçambique caiu três posições, passando do lugar 146 para 149. No relatório, realça-se o risco de Moçambique se encaminhar para uma "espiral descendente, sem esforços concertados para apoiar a transparência e a responsabilização". A TI denuncia mesmo uma falta de empenho dos donos do poder no país: "a elite política e governamental em Moçambique continua a usar a corrupção para acumular negócios e oportunidades para se enriquecer".
O documento pode ser consultado aqui.
É a descrição de um Estado capturado por uma teia de interesses e negócios. Os pormenores vão-nos chegando dia a dia.
E tudo isto foi antes de os milhões do gás natural começarem a circular no país. Milhões esses que tenderão a tornar mais ricos os poderosos, da elite político-militar, que têm vindo a posicionar as suas empresas como fornecedores de serviços. Milhões esses que tornarão mais dispensáveis ainda os pareceres e opiniões da comunidade internacional.
Em poucos anos, Moçambique foi de "bom aluno" a "bom malandro". Seguindo pelo mesmo caminho, dentro de mais alguns anos poderá ser um Estado traficante.