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Frelimo e Renamo em “rota de colisão eminente”
A tensão pós-eleitoral em Moçambique mantém-se, e Frelimo e Renamo estão em “rota de colisão eminente”, afirma o investigador Gustavo Plácido dos Santos. Um conflito armado teria consequências potencialmente desastrosas para os investimentos na exploração de gás natural, mas uma escalada a esse ponto não é inevitável, embora exija cedências, defende.
Numa análise para o Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS), Plácido dos Santos afirma que a investigação sobre o assassinato de Gilles Cistac tenderá a beneficiar a posição da Renamo, a quem o jurista estava ligado. “Os próximos meses prometem ser emocionantes para os fãs de thrillers políticos”, afirma.
A Renamo tem alavancagem na questão da autonomia das províncias onde foi mais votada nas últimas eleições, enquanto a Frelimo “se depara com um espaço de manobra limitado”.
“Inconscientemente, os rivais históricos de Moçambique colocaram-se numa situação em que os dois se encontram numa rota de colisão eminente. O tempo dirá qual deles acabará por ceder”, afirma Plácido dos Santos. No caso improvável de não haver cedência, adianta, “o choque resultante terá repercussões reminiscentes da guerra civil”.
Um conflito armado afetaria duramente a exploração de recursos naturais, que promete trazer investimentos bilionários a Moçambique nos próximos anos. Deixaria em causa os principais projetos, com os investidores a virarem-se para países vizinhos como a Tanzânia.
Isto seria “uma dura derrota para Frelimo e Renamo, bem como para a economia e a população moçambicana, a qual vê no boom energético uma oportunidade para melhoria da situação sócio-económica”.
Tendo em conta os interesses económicos, nacionais e internacionais, mas também a política regional, o investigador acredita que a pressão de atores internacionais com interesses em Moçambique “irá ditar até que ponto os dois lados do espectro político poderão continuar numa rota de colisão”.
“A Renamo representa uma ameaça real à Frelimo. Contudo, as cartas em cima da mesa mostram que há mais em jogo do que as ambições das duas maiores forças políticas”, afirma. Pequenos confrontos armados ou puramente políticos são “inevitáveis”, mas “no fim alguém terá de ceder”.