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Moçambique ainda precisa de solução política de longo prazo entre Frelimo e Renamo
O acordo entre Frelimo e Renamo para realização das eleições presidenciais em outubro, pondo fim a vários meses de insegurança e confrontos armados, trouxe um suspiro de alívio à comunidade internacional e aos investidores. Mas o ganho só será efetivo quando os partidos encontrarem numa solução que traga estabilidade a longo prazo, afirma o investigador Nelson Alusala.
Num relatório publicado pelo Instituto de Estudos de Segurança da África do Sul, Alusala aplaude o acordo alcançado, que permitiu o arranque da campanha eleitoral, alertando para os desafios ao processo que os dois líderes ainda têm de superar, por forma a que não haja sobressaltos, sobretudo depois da votação.
“Umas eleições pacíficas irão depender do facto de as contínuas negociações, que estão inteiramente dependentes da boa vontade de todas as partes, conseguirem uma solução a longo prazo para o impasse político”, afirma. E deixa a dúvida: “quais seriam as implicações caso a Renamo não cumpra o pacto pré-eleitoral e sinta que sairá derrotada nas eleições? Será que voltaria a guerra?”
O investigador, que trabalhou para o Grupo de Peritos da ONU sobre a República do Congo e está envolvido em pesquisa sobre o desarmamento, desmobilização e reintegração na região dos Grandes Lagos, deixa algumas propostas para o processo pós-eleitoral, a serem incluídas no documento final.
O secretariado da SADC, sugere, pode garantir a segurança das negociações. O governo de Moçambique entregaria “uma certa percentagem dos rendimentos dos seus recursos naturais durante um determinado período de tempo ao fundo fiduciário” do organismo. Estas verbas serviriam para apoiar medidas de construção de confiança pós-eleitoral, adianta.
Este tipo de medidas pode acabar definitivamente com hostilidades, garantindo eleições pacíficas. Por outro lado, não está afastado um cenário em que as negociações não tragam resultados, fazendo com que as eleições decorram numa atmosfera de hostilidades armadas, com consequências na segurança e “desenvolvimento socioeconómico do país”, alerta.
Segundo o Africa Monitor Intelligence A probabilidade de a Frelimo e Filipe Nyusi, o candidato presidencial, virem a vencer as eleições é, em geral, considerada “alta”. O controlo do Estado e da economia, adicionados às influências de que a Frelimo goza em sectores chave da sociedade, são considerados factores decisivos para a vitória.
A dúvida, refere a mesma fonte, é em relação ao partido que ficará em segundo lugar – um desfecho que a Frelimo supostamente também cuidará de tentar influenciar.