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Legislativas 2016: fim das maiorias absolutas em Cabo Verde?
Estão já no terreno as campanhas para eleições legislativas de Cabo Verde, a 20 deste mês – em bom rigor, já estavam na (muito dilatada) pré-campanha. Sem sondagens credíveis, poucos arriscam apostas numa vitória dos 2 maiores partidos, PAICV e MpD. Sinal de que um ou outro podem ficar aquém da maioria absoluta, o que daria à UCID um papel inédito na formação de um governo.
“Se não houver manipulação relativamente escandalosa, tanto um como outro (PAICV ou MpD) pode ganhar as eleições do dia 20” – afirma uma fonte particularmente bem colocada. “Isto quer dizer que nenhum dos dois poderá ter maioria absoluta no parlamento”, acrescenta.
Argumentos para justificar esta dúvida-certeza: a ausência de sondagens credíveis, o activismo da UCID e a percepção que parece predominar depois do chamado debate televisivo, aparentemente favorável a Janira Hopffer.
O académico Corsino Tolentino afirma mesmo que que “um resultado com ausência de maioria absoluta seria um dilema com saldo positivo” para Cabo Verde.
“Por um lado, os próximos tempos vão ser duros, não havendo tempo a perder. Por outro lado, a situação forçaria o MpD e o PAICV a perceber o país real (local e internacional) e a descobrir o caminho do diálogo entre os partidos e a sociedade política e a sociedade civil”, afirma Tolentino.
A UCID pode vir a constituir uma ponte para um arranjo parlamentar, já que é, juntamente com o PAICV e o MpD, o único que tem ressonância eleitoral forte, nomeadamente, em S. Vicente de onde é natural o seu líder, António Vicente.
Esta é outras das especificidades das eleições de Cabo Verde: os líderes dos partidos empenham-se particularmente em ganhar eleições nas suas terras de origem, assim como os corredores de bicicleta se esforçam por ganhas as etapas junto das suas gentes.
Apesar das falhas das sondagens, manipuláveis à vontade, há nestas eleições, tal como nas anteriores, um factor importante de influência – a injecção de capitais, mais ou menos imorais.
Cabo Verde ainda não dispõe de um sistema de sondagens credíveis, porque as únicas entidades interessadas nelas são os partidos, que as usam como matéria de propaganda (um pouco por todo o Mundo, as sondagens têm perdido credibilidade). Mesmo quem as publica reconhece a falibilidade, mas acredita que o povo pode ir atrás delas.
Apesar da não existência de análises de opinião credíveis, é possível perceber que o poder se vai disputar entre o PAICV, que venceu nos últimos três mandatos e o MpD, que governou dez anos o país, preenchendo um intervalo entre dois períodos de 15 anos cada de governo do PAICV.
Outra certeza: os pequenos partidos, que estão a tomar balanço para o futuro, tais como PP, PSD, PTS, não vão contar para este campeonato. Vão-se ficar pelos escalões secundário. A disputa é mesmo entre o PAICV e o MpD e só o voto do dia 20 decidirá o vencedor.