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Editoriais do Jornal de Angola tentam intimidar críticos em Portugal
A esperada resposta oficiosa do regime às críticas na política e opinão pública portuguesa à sentença dos 17 activistas surgiu no sábado, através de editorial do Jornal de Angola. Pela mesma via, foi hoje novamente renovada a pressão, a propósito do aniversário dos acordos de paz de 2002. O objetivo não declarado é intimidar os críticos no estrangeiro. A União Europeia também é visada, mas, curiosamente, os Estados Unidos não.
"Violações grosseiras e inaceitáveis" , é como o Jornal de Angola classifica as posições do Governo e Assembleia da República de Portugal, bem como a da delegação da União Europeia. Estas tinham posto em causa o processo que levou à condenação de ativistas angolanos. No mesmo sentido do que a oposição angolana, e algus juristas.
Em editorial, o JA afirmou sábado que as posições “põem em causa o país e as suas instituições". "Além da tendência e visão paternalista que leva as entidades e individualidades estrangeiras a pôr em causa determinados Governos e instituições, é recorrente o tratamento de menoridade”.
Repetindo argumentos usados em anteriores editoriais anti-portugueses, aponta "sequelas perigosas da herança colonial", traduzidas na forma condenável como determinados. Fazendo eco da reação inicial do governo, critica que "algumas entidades se imiscuam nos assuntos internos dos outros Estados".
Hoje, volta a carga lembrando a guerra civil que "contou com a cumplicidade criminosa de setores em Portugal e na Europa". Posteriormente, as "promessas feitas pelos doadores internacionais em Bruxelas, (...) foram-lhes recusadas pelos mesmos que criticam hoje o facto de Angola querer fazer o seu caminho sozinha. Quando as portas são fechadas – como hoje volta a acontecer – como não seguir pela alternativa que sobra, a de caminhar caminhando”, afirma.
“Hoje as atenções estão viradas para o processo de reforço das instituições do Estado democrático de direito e de diversificação económica. Os angolanos estão outra vez a arregaçar as mangas, mas novamente contam com a incompreensão absurda de Portugal e da União Europeia”, adianta; Os dirigentes europeus, acusa, estão a mentir sobre a realidade angolana e querem "o isolamento internacional do Governo angolano, como se houvesse uma alternativa ao atual poder em Angola que não fosse mais um aventureirismo político”.
Os editoriais seguem-se a uma vaga de críticas em todo o mundo. A mais recente foi a do Departamento de Estado norte-americano, manifestando "preocupação com relatos de irregularidades processuais e falta de transparência no julgamento, que levantam questões sobre se o Estado de Direito prevaleceu neste caso".
O assunto chegou ao parlamento português, onde votos do BE e PS condenando a sentença foram rejeitados com o apoio do PCP, PSD e CDS-PP. A posição destes dois últimos partidos foi criticada internamente. No caso do CDS-PP, os ex-líderes José Ribeiro e Castro e Manuel Monteiro publicaram no sábado um artigo de opinião criticando a votação.
“Ver o CDS-PP e o PSD votarem ao lado do Partido Comunista Português contra qualquer manifestação de discordância face às severas penas de prisão a que foram condenados 17 jovens angolanos que pacificamente exprimem divergência política é impossível de explicar – e de compreender. Ou, então, um gesto que deixa tudo explicado”, afirmam em artigo no jornal Público.
Segundo o Briefing Diário AM, os editoriais visam sobretudo Portugal e a classe política portuguesa, além do meio diplomático internacional, constituindo uma tentativa de silenciar quaisquer focos de críticas, através de pressão.
Recuperam argumentos antigos (colonialismo, apoios à UNITA durante a guerra civil) e usam relativamente novos (falta de ajuda da UE). Os principais objetivos são a coesão do regime, perante o “inimigo externo”, assumindo posição de força/desafio, adianta a mesma fonte.
Regime continuará sob pressão internacional e estará empenhado em eliminar qualquer contestação a nível interno e externo, conclui.