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Analistas esperam que José Eduardo dos Santos só deixe presidência em 2022
Angola pode estar a entrar num momento de viragem na sua história, motivado pela crise económica, que torna urgente implementar reformas. Mas a nível político, segundo a maioria dos observadores, o presidente José Eduardo dos Santos só deverá deixar a presidência em 2022, quando completar 43 anos no poder. Para já, afirma o investigador britânico Alex Vines, Santos assegurou o controlo da principal fonte de rendimento do país, a Sonangol, ao nomear a sua filha Isabel dos Santos para a presidência da petrolífera.
No seu mais recente artigo “Continuidade e Mudança em Angola”, para a revista International Affairs, Alex Vines, faz uma revisão conjunta de algumas das principais obras sobre Angola editadas no último ano, nomeadamente de Ricardo Soares de Oliveira, Justin Pearce, David Birmingham ou Didier Peclard.
Na “ausência de um óbvio sucessor político”, refere Vines, Santos nomeou a sua filha Isabel para liderar as reformas na Sonangol. “A intenção é proteger o principal gerador de riqueza do país, mas também os interesses da família presidencial durante este período de transição”.
“Alguns têm sugerido que Isabel pode estar a ser preparada para a Presidência: é uma possibilidade, mas dificilmente exequível por ela ser de raça mista e ter nascido fora de Angola. A raça e a etnicidade já determinaram no passado quem seria presidente e provavelmente assim será novamente”, adianta Vines, responsável desde 2002 pelos assuntos africanos da Chatham House – Instituto Britânico de Relações Internacionais.
O petróleo é a principal exportação e responsável pela quase totalidade do PIB angolano. Segundo observa Vines, com base nos referidos autores, os políticos Angolanos são “viciados nos rendimentos do petróleo e a companhia estatal Sonangol foi o epicentro de um sistema paralelo”.
Ainda segundo Vines, “a maioria dos observadores espera que JES seja reeleito presidente de Angola para novo mandato e se retire em 2022. Desde 2001 que por diversas vezes deu a entender que estava a considerar retirar-se, mas usou essas ocasiões para varrer os adversários à presidência, eliminando as suas aspirações”. Santos anunciou recentemente a intenção de se retirar da vida política em 2018.
O próprio João Lourenço, eleito vice-presidente do MPLA no último Congresso e o nome mais forte para figurar ao lado de Santos na lista do partido às próximas presidenciais, já viu as suas aspirações esmagadas no passado, após o que iniciou uma longa travessia no deserto.
Para Vines, “a crise económica que se instalou no país está a reforçar a necessidade de reformas estruturais profundas e mudanças de direção na política económica que está a ser seguida”. No entanto, continua, “os elementos que determinam essa mudança são complexos e estão dependentes de factores políticos, geopolíticos, de prestígio, de personalidade, de solidariedade, da análise do custo-benefício e de timing”.