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35º aniversário de Santos no poder marcado por indefinição
O plano pode ser a transmissão do poder em Angola, com a dificuldade de encontrar uma figura consensual dentro do MPLA e do regime. Ou, dizem alguns, o plano é exatamente manter esta indefinição, para que tudo fique como está. O facto é que, 35 anos depois de José Eduardo dos Santos ter chegado ao poder em Angola, não há sucessor à vista, o que deixa muitos sectores inquietos.
Na já longa a lista de potenciais sucessores, o nome de Manuel Vicente é o que atualmente avulta, depois de ter sido escolhido para vice-presidente. Mas, relata o África Monitor Intelligence, cresce o cepticismo dentro do regime em relação a esta escolha.
As dúvidas sustentam-se na degradação da reputação de Manuel Vicente como um gestor categorizado, adquirida e sedimentada por via da sua passagem pela administração da Sonangol, e o círculo presidencial mostra-se desiludido em relação ao investimento feito na sua promoção. O próprio Vicente confessa desilusão com a vida política.
Da sua passagem pela Sonangol, diz-se agora que o mérito não foi do gestor ou da sua equipa, mas de consultores internacionais que apoiaram a gestão. Além disso, as contas da petrolífera evidenciam desequilíbrios, devido a investimentos externos considerados ruinosos. Fala-se ainda da ligação a Vicente e pessoas da sua confiança de empresas externas prestadoras de serviços à Sonangol, adianta o Intelligence.
Para acrescentar à indefinição, João Lourenço, histórico do MPLA e considerado um “presidenciável”, regressou ao topo da política com o cargo de ministro da Defesa. A nomeação foi interpretada por alguns como uma manobra de Santos para “remover” Manuel Vicente como forma de evitar discrepâncias com o núcleo duro do MPLA, que manifestamente não o apoia.
Além de Vicente, surgem na corrida de sucessão Fernando Piedade Dias dos Santos (“Nandó”) e mesmo dos filhos de Santos, sobretudo José Filomeno dos Santos “Zenu”.
Sucessão ameaça estabilidade
Nos 35 anos de governação de Santos, o trunfo do exercício quase unipessoal do poder é a estabilidade, que tem permitido chave para o crescimento económico em Angola e projeção desse poder dos “petrodólares” além-fronteiras.
No recente estudo “Angola: Rumo à Supremacia na África Sub-Saariana”, o investigador Plácido dos Santos sublinha que Angola se tornou num ator principal no continente. “Angola tornou-se num grande parceiro que tem de ser abordado em qualquer assunto na região dos Grandes Lagos, África Austral e Golfo da Guiné”.
Agora, diz o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS), a sucessão “irá possivelmente originar disputas de poder internas e mesmo um levantamento social liderado pela oposição, que pode ameaçar o regime, e assim minar o caminho estável que o país tomou desde o fim da guerra civil”.