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Índia mais assertiva troca “cotoveladas” com China em Angola e Moçambique
É um claro desafio ao ascendente da China sobre África. Esta semana, o primeiro-ministro da Índia recebe alguns dos mais destacados líderes africanos, para uma cimeira de alto nível. Angola e Moçambique estão entre os principais parceiros indianos no continente.
Em altura de procura de soluções para os problemas financeiros do país, não passou despercebido o peso da delegação angolana à 3ª Cimeira Índia-África: além do ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, os da Agricultura, Afonso Pedro Canga e das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Carvalho da Rocha. Na reunião de alto nível, quinta-feira, estará o Vice-Presidente Manuel Vicente.
Na última década, a Índia concedeu a países africanos 9 mil milhões de dólares de financiamento em condições preferenciais. Se até à crise petrolífera o financiamento chinês era suficiente para alimentar a máquina dos projetos de infraestruturas, as atuais necessidades angolanas de crédito obrigam a encontrar novas fontes. E com urgência.
Entre os países lusófonos, Angola é de longe aquele cujas relações comerciais com a Índia são mais expressivas, graças às exportações de petróleo. Apenas Nigéria e África do Sul, que estarão representadas na Cimeira pelos seus presidentes, têm uma balança comercial maior com a potência asiática.
A Cimeira é vista pelos analistas como um claro desafio ao ascendente que a China alcançou sobre o continente na última década. O próprio ministro indiano das Finanças, Arun Jaitley, admite a “lentidão” indiana na abordagem a África. E que a China tem “algumas décadas de vantagem”.
Rajrishi Singhal, analista da consultora indiana Gateway House, afirma que a crise financeira global de 2008 foi o “agente de mudança” da postura chinesa em relação a África. “Sublinhou os perigos da excessiva dependência da Índia em relação às economias ocidentais desenvolvidas, principalmente na Europa e América do Norte, quanto a comércio e investimento”. Os países em desenvolvimento passaram a ser vistos como uma solução.
O grosso do comércio envolve matérias-primas, numa altura em que as maiores economias africanas querem diversificar-se, o que em Angola se tornou numa urgência com a crise petrolífera. Amadou Sy, analista da norte-americana Brookings Institution, questiona o alinhamento das prioridades africanas com as da Índia, China, Estados Unidos e mesmo União Europeia.
O comércio entre Índia e África vale cerca de 65 mil milhões de euros, cerca de um terço das trocas entre China e África, mas tem crescido a um ritmo acelerado – cerca de dois terços em apenas 4 anos.
Na Cimeira, Moçambique, 6º maior parceiro indiano no continente e um dos países a que tem maiores ligações culturais, estará representado pelo primeiro-ministro, Carlos do Rosário. Por São Tomé e Príncipe estará o primeiro-ministro Patrice Trovoada. É ainda esperada a presença dos presidentes de Cabo Verde, Jorge Fonseca, e da Guiné Bissau, José Mário Vaz.