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Guiné-Bissau, o país "mais liberal à face da terra"
Por Emmanuel Cortês, para Africamonitor.net
Por detrás da imagem de instabilidade política, a Guiné-Bissau esconde uma economia resiliente, com taxas de crescimento elevadas e uma situação económica e cambial estável. Mais do que isso, tem a economia "mais liberal à face da terra", devido à reduzida presença do Estado. Estas foram algumas ideias defendidas pelo gestor Diogo Lacerda Machado, em mais uma conferência Fundação AIP-África Monitor.
Para o gestor, Presidente do Conselho de Administração do BAO – Banco da África Ocidental, “a Guiné-Bissau, no meio de instabilidade política, é um oásis de estabilidade cambial e monetária”. Parte desta estabilidade vem da pertença à União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), zona do Franco CFA. A proximidade a países com crescimento pujante, como o Senegal e a Costa do Marfim, também abrem potencialidades a investimentos no país.
“Eu acho que em 2009, 2010, 2011, o crescimento da Guiné-Bissau foi de 10%. Foi o tempo em que se esteve perto de completar uma legislatura inteira”, afirmou o gestor, com base no cruzamento de estatísticas oficiais com dados do BAO. Os últimos dados do Fundo Monetário Internacional, divulgados na 3ª feira, apontam para um crescimento de 5% em 2017 e em 2018, acima da média da região da África Subsaariana.
O golpe de Estado de 2012 veio moderar o crescimento económico, até pelo momento em que aconteceu. "Foi o pior dia possível. Era o pico da campanha de cajú. Isso precipitou o gravíssimo problema económico da Guiné-Bissau, e o país ainda não se recompôs”.
Contudo, mesmo nos tempos de maior instabilidade, mesmo após o assassinato de Nino Vieira, a economia não parou. “Nunca na Guiné-Bissau se completou uma legislatura. Os Presidentes da República não concluem seus mandatos. Mesmo quando há eleições, e se recupera a ordem constitucional, esta não consegue sobreviver por muito tempo”, afirmou.
Apesar do contexto político, entre golpes de Estado e mudanças de Governo, a Guiné-Bissau tem potencial para o investimento, "sobretudo para empresários portugueses que não tenham medo de dormir ao relento”. Além da segurança e hospitalidade, "é o mercado mais liberal que existe na face da terra”, considerou Lacerda Machado.
O gestor fez ainda o contraponto com Cabo Verde, outro país onde o grupo Geocapital tem presença, através da Caixa Económica (CECV), um "caso extraordinário” de desenvolvimento baseado apenas em capital humano, com poucos recursos naturais. A “Guiné-Bissau com a sorte de ter recursos naturais na terra, debaixo da terra, em cima da terra, está nos últimos lugares dos indicadores de desenvolvimento humano".
Esta foi a quinta conferência do ciclo África Monitor-Fundação AIP, depois de Guiné Equatorial, Angola, Cabo Verde e Moçambique. A próxima terá lugar no próximo mês, dedicada a São Tomé e Príncipe.