Acesso Livre
Fundo Soberano de Angola de "digestão difícil" nos círculos de poder
A criação do FSDEA-Fundo Soberano de Angola foi recebida com insatisfação interna, a par de comedidas atitudes de reserva em meios internacionais. As clivagens chegam a altos escalões do regime e da alta sociedade com ele identificada, animadas por grupos que se consideram relegadas para segundo plano ou mesmo discriminadas por José Eduardo dos Santos e afastados do seu círculo.
A “tensão” abrange indivíduos/grupos do MPLA e da elite político-social, em geral considerados “não alinhados” com o Presidente José Eduardo dos Santos. Coincidem, na prática, com os que se manifestaram “inconformados” com a escolha do Vice Presidente, Manuel Vicente.
O efectivo controlo e Santos sobre o FSEDA, significa, para os críticos, tirar proveito da vantagem para reforçar o seu poder e o de grupos que lhe são afectos, marginalizando os que não o são. A ideia corrente é a de que ao FSDEA está destinada a mesma função até agora reservada a fundos provenientes do petróleo, mas em cuja gestão havia interferências da Sonangol. O FSDEA, alimentado com recursos também provenientes do petróleo, é organicamente uma instituição autónoma (administrativa, financeira e patrimonial).
Para a diluir a ideia do controlo da nova instituição por parte de Santos, foi nomeado como administrador Hugo Gonçalves, quadro do Ministério das Finanças descrito como “um jovem desconhecido”, com laços de parentesco com Manuel Nunes Junior, secretário do Bureau Político do MPLA para os Assuntos Económicos.
Contudo, o PCA, Armando Manuel, secretário do Presidente para os Assuntos Económicos, é uma figura desprovida de importância política e social. O exercício do cargo que lhe está reservado será meramente formal, até por que conservará o cargo e o gabinete de secretário do Presidente para os Assuntos Económicos. José Filomeno dos Santos “Zenu”, filho de JES, será, de facto, o PCA, assistido por um vasto núcleo de conselheiros estrangeiros. Com um deles, Jean Claude de Morais Bastos, tem negócios e interesses em comum, incluive na Suiça, país do que este é originário.
As reservas internacionais em relação ao FSDEA são menos incisivas que os sentimentos de insatisfação interna. A composição da sua administração não inspira confiança, assim como algumas das suas ligações/articulações externas. Considera-se, porém, que se está perante “uma evolução de sentido positivo”.
Critérios de “aparência”, usualmente presentes na política angolana, também estão referenciados na criação do FSDEA. As latas competências da Sonangol, inclusive como gestora das receitas petrolíferas, suscitaram sempre objecções de instituições como o FMI; a criação do FSDEA visou amortecer tais objecções.
(2013, Africa Monitor Intelligence - www.africamonitor.net)