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"Falta de transparência e questões por responder" no Fundo Soberano de Angola
Tendo como rosto José Filomeno dos Santos "Zenú", filho do presidente angolano, o Fundo Soberano de Angola foi criado sob o signo da boa gestão dos recursos petrolíferos angolanos. Dois anos depois, contudo, o cenário é de "falta de transparência e questões por responder" nas dotações financeiras, afirma a Economist Intelligence Unit.
As primeiras contas auditadas do Fundo, apresentadas na quarta-feira, deixaram mais dúvidas do que certezas aos analistas da EIU. Para hoje está prevista uma apresentação do Fundo no Royal Institute of International Affairs (Chatham House), Londres, feita pelo próprio "Zenú", uma inciativa de charme importante para o fundo, mas também para o regime, frequentemente acusado de apropriação de recursos do Estado.
A publicação das contas é positiva, dado que até agora a informação sobre o fundo era escassa, afirma a EIU. Mas permanecem questões importantes, como a demora de dois anos em dotar o fundo do capital previsto - 5 mil milhões de dólares - ou a origem destes fundos. "Não é claro de onde veio o dinheiro".
Aquando do lançamento, em outubro de 2012, previa-se que os activos viriam do chamado Fundo Petrolífero. Este instrumento tinha sido criado em março de 2011, recebendo receitas equivalentes a 100 mil barris de petróleo diários. Seria um fundo de desenvolvimento para projetos de água, saneamento e eletricidade.
Mas as contas deste fundo nunca foram publicamente apresentadas, estando por saber quanto dinheiro arrecadou, que destino teve e quais as verbas canalizadas para o novo Fundo Soberano, que tem um âmbito de actuação mais vasto, prevendo inclusivamente investimentos no estrangeiro.
"A contínua falta de transparência e falta de respostas sobre como opera (o Fundo) não contribuirá para tranquilizar investidores e colaboradores", afirma a EIU. O fundo não começou ainda a investir de forma significativa.
Numa entrevista à Reuters já este mês, "Zenú" afirmou que um terço dos activos do fundo seriam aplicados em activos financeiros líquidos em mercados desenvolvidos, outro terço em infra-estruturas, imobiliário, mineração e energia, e o restante terço em investimentos "mais oportunísticos" em todo o mundo. Deu como exemplo a compra de empresas em sectores importantes para Angola.
Sem que tenha sido apresentada uma explicação, os activos do fundo apenas foram disponibilizados este ano. As contas revelam, inclusivamente, um prejuízo, relacionados com a sua montagem.