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Filipe Nyussi, o primeiro “homem do norte” candidato a presidente pela Frelimo
A Frelimo faz questão de repetir que os seus candidatos presidenciais não são escolhidos consoante origem ou etnia. Mas é um facto incontornável e inédito: Filipe Nyussi, um “maconde”, será o primeiro homem do norte que o partido do regime moçambicano apresenta a eleições, e provavelmente próximo presidente.
Elisabete Azevedo-Harman, investigadora do Africa Programme da Chatham House britânica, afirma em análise divulgada na sequência da escolha de Nyussi pelo Comité Central da Frelimo, no passado fim-de-semana, que ele deverá ser o próximo presidente, dado o domínio da Frelimo. Depois de meses de disputa interna, espera-se agora que o partido se una em torno da sua candidatura.
A escolha, afirma, foi “surpreendente para muitos e desapontou alguns”, dado que não é um histórico do partido e é pouco conhecido entre o eleitorado, apesar de o engenheiro formado na antiga Checoslováquia ser ministro da Defesa desde 2008. “Significativamente”, afirma, é também um maconde da província de Cabo Delgado (norte), “a primeira vez que um candidato da Frelimo não é do Sul”, como Armando Guebuza ou o seu antecessor Joaquim Chissano.
“Ele é visto como um seguidor de Guebuza, embora não seja certo que continue a sê-lo após a eleição presidencial”, afirma Azevedo-Harman.
A newletter Africa Monitor, na sua última edição, afirma que “Nyussi tenderá a aceitar mais naturalmente um papel secundário” perante Guebuza, que se manterá como figura central no partido, dado o candidato presidencial ser “ainda relativamente jovem e sem estatuto no partido e/ou na sociedade”
“Por acréscimo, ao promover um maconde a futuro Presidente, Guebuza reforça o seu capital de simpatia entre os Macondes”, refere a newsletter.
O jornal moçambicano Expresso vai mais longe e afirma que a candidata derrotada, Luísa Diogo, “pagou a fatura da necessidade de se colocar no auge um maconde”, preferencialmente com passado ligado à província onde teve início a luta pela independência.
“Uma das maneiras de reconhecimento da população de Mueda, ou de Cabo Delgado, era ver um filho da casa no pódio da governação, como na Ponta Vermelha. Isso foi sendo sucessivamente adiado, primeiro a favor de Joaquim Chissano, após a morte de Samora Machel, depois por Armando Guebuza, que terá recebido a missão de criar as necessárias condições para albergar um filho maconde”, escreve o jornal moçambicano.