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A exaltação de José Eduardo dos Santos, até à (mais que) esperada reeleição
Nem a crise económica sem precedentes em Angola parece travar o caminho de José Eduardo dos Santos para a reeleição como presidente em 2017. O processo vai obedecendo a um antigo ritual, cujo primeiro marco, já em curso, é a exaltação de Santos. Com a vida de empresas e empresários convertida num pesadelo diário, a tática é o anúncio quase diário de novos investimentos (por “decreto presidencial”) e de exportações – bananas ou peixe incluído.
A candidatura de JES à liderança do MPLA foi aprovada pelo Comité Central a 11 de março. O processo de “receção de candidaturas” a concorrentes do chefe de Estado há 36 anos no poder decorre até final do mês. Segundo o vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida, Santos é até agora o único candidato que deverá apresentar-se no VII Congresso do partido, a partir de 17 de agosto.
A candidatura tem como “pano de fundo” o anúncio feito pelo próprio da sua retirada da vida política activa em 2018. Fora isso, a apresentação da candidatura de JES à presidência do MPLA seguiu os procedimentos de sempre, segundo o Briefing Diário Africa Monitor de hoje, disponível para os assinantes Africa Monitor Intelligence.
“Até à sua certa e segura eleição no congresso do partido, marcado para Agosto, há-de ocorrer um frenesim de manifestações de apoio, de exaltação dos seus feitos e prodígios. Tudo igualmente como dantes”. Em concreto, o objetivo é “realçar uma liderança mais desgastada do que nunca” e “aproveitar o clima criado por isso, pela sua eleição e por uma renovação do partido mais ajustada aos seus interesses na relação interna de forças, para exortações de que mantenha no seu posto”, adianta.
Num artigo recente no site Presidential Power, o investigador Gustavo Plácido dos Santos afirma ser “altamente improvável” uma candidatura concorrente à de Santos. Até porque, se aparecer, está nas mãos da liderança do MPLA travá-la.
Em relação às eleições de 2017, a oposição apresenta-se dividida, enquanto o MPLA tem uma “máquina eleitoral bem oleada e recursos do Estado á sua disposição” para a campanha. Por estes e outros fatores, um “desafio significativo ao status quo torna-se uma tarefa praticamente impossível”, afirma o analista.
Entretanto, as autoridades angolanas desencadearam nas últimas semanas um esforço visível para anunciar novos projetos de investimento no país e iniciativas de exportação, sobretudo via imprensa oficial, angolana e estrangeira. Na segunda-feira, o Jornal de Angola fazia manchete com um contrato de exportação de peixe para a Namíbia.
Estes esforços, adianta o Briefing, são “particularmente úteis como resultados dos urgentemente necessários esforços de diversificação económica”. Contudo, os projetos de investimento anunciados em grande parte levantam dúvidas quanto à sua real exequibilidade – considerando, entre outros fatores, a muito negativa conjuntura económica, a falta de acesso a financiamento interno e externo por parte das empresas, os problemas de acesso a vias de comunicação e as habituais dificuldades de implementação de negócios em Angola”.
“As exportações, têm uma expressão relativamente reduzida para aquilo que é a dimensão da economia angolana, pelo que são sobretudo simbólicos do referido processo de diversificação, em que o próprio PR empenhou capital político”, adianta o Briefing Africa Monitor.