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“Irritação” em Cabo Verde com embaixador da União Europeia

“Irritação” em Cabo Verde com embaixador da União Europeia

 
Do incómodo à irritação: o governo de Cabo Verde já não esconde o que sente pelas intervenções públicas do embaixador da União Europeia. José Manuel Pinto Teixeira tem tido um discurso crítico em relação às opções políticas cabo-verdianas. O primeiro-ministro ficou “muito irritado” e admite mesmo medidas extremas.

José Maria Neves não compareceu na recepção oficial promovida pela representação da União Europeia na Praia para assinalar o Dia da Europa (9 de Maio), em que tem marcado presença todos os anos. De acordo com o Africa Monitor Intelligence, a ausência foi propositada, para mostrar desagrado com as mais recentes declarações de Pinto Teixeira.

Uma recente entrevista ao Expresso das Ilhas, um jornal próximo da oposição, foi vista pelo executivo como um conjunto de “lições”, em tom crítico em relação a políticas seguidas nos últimos anos. O jornal fez uma chamada de capa com a frase “Cabo Verde perde oportunidades porque o ambiente de negócios é mau”.

Em declarações posteriores, o diplomata reiterou os mesmos pontos de vista – o que foi interpretado como demonstração de que estava devidamente instruído para o dizer. Promoveu ainda um encontro da ministra do Turismo e Investimento, Leonesa Fortes, com a Associação de Empresários Europeus, em que estes fizeram fortes críticas, na mesma linha do diplomata, que acabaram publicadas na imprensa.

Segundo o AM Intelligence, o próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros alertou a outras representações diplomáticas de países da União Europeia, nalguns casos presencialmente, para o facto de o primeiro-ministro ter ficado muito irritado com o tom usado pelo diplomata. E falou mesmo em “medidas extremas”, não especificadas.

Fonte diplomática da União Europeia na capital cabo-verdiana considera improvável uma alteração de atitude do embaixador. O próprio terá relativizado a reação do governo, que atribuiu ao facto de estarem pouco habituadas a lidarem com críticas, facto a que acresce a sensibilidade do período pré-eleitoral.

Aliás, o diplomata da UE tem a seu favor a recente negociação das ajudas financeiras europeias a Cabo Verde. Com a generalidade dos parceiros europeus a reduzir ajudas, e com um ponto de partida de um envelope de 30 milhões de euros, o arquipélago acabou por conseguir chegar aos 55 milhões de euros de ajudas, muito graças à intervenção do diplomata.