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Angola “atenta” a milhões dos Emirados Árabes Unidos
A China captou quase toda a atenção da recente saída de José Eduardo dos Santos para o estrangeiro. Mais discreta foi a passagem pelo Emirados Árabes Unidos, mas Luanda olha com muita atenção para este país do Médio Oriente, dados os milhares milhões prometidos para infraestruturas em África. Na agenda, terá estado também a turbulência na parceria TAAG-Emirates.
Em Setembro de 2014, um conjunto de empresas dos EAU prometeram aplicar 19 mil milhões de dólares em países da África Ocidental, na construção de infraestruturas através de parcerias público-privadas (PPPs). Isto “terá chamado a atenção de Luanda para o potencial dos EAU em satisfazer as necessidades de financiamento de Angola”, afirma o analista Gustavo Plácido dos Santos num comentário para o Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS).
Aquando da visita a Abu Dhabi, recorda o analista, José Eduardo dos Santos expressou interesse na criação de PPPs com empresas emiratis para “dar continuidade à construção das suas infraestruturas” e impulsionar “a diversificação da sua economia”. Isto numa altura em que o governo se debate com dificuldades orçamentais, que levaram também a um pedido de reforço do apoio financeiro chinês.
A visita, considera Plácido dos Santos, correspondeu a “uma necessidade estratégica”. “Por força do impacto da redução dos preços do petróleo nas finanças nacionais de Angola, o governo de Luanda precisa urgentemente de diversificar a economia nacional e garantir fontes de financiamento sob pena de mergulhar o país numa crise socio-económica e ameaçar a estabilidade política”.
Brasil e a China são os grandes financiadores da construção de infraestruturas, mas “a superação dos desafios económico-financeiros de Angola exige alargar o leque de parceiros estratégicos”. A disponibilidade financeira e experiência do sector empresarial dos EAU, juntamente com a afirmação do país como hub comercial, de investimento e financeiro, serve esse propósito, contribuindo para a diversificação da base de exportações e desenvolvimento económico de Angola”.
Segundo o Africa Monitor Intelligence, em cima da mesa esteve também a parceria TAAG/Emirates, cuja concretização plena tem vindo a ser prejudicada pela lentidão do processo. O acordo prevê que a Emirates seja responsável pela gestão da empresa angolana durante 10 anos e cooperação entre ambas as empresas em oportunidades comerciais em África.
Em negociação, refere a mesma fonte, está uma eventual participação da Emirates na gestão do novo aeroporto de Luanda. Os responsáveis da Emirates têm sempre feito questão de negociar com interlocutores mandatados pelo Presidente.
Além da Emirates, outras empresas do país têm anunciado projetos de investimento em Angola. É o caso da Dubai Investments, que está a analisar a possibilidade de desenvolver um parque industrial em Angola, do Abraaj Group (investimento na têxtil Fibrex) e dos grupos hoteleiros Rotana e Jumeirah. Também a Câmara de Comércio e de Investimento do Dubai (CCID) pretende abrir escritórios em Angola, entre outros países africanos.
Para Plácido dos Santos, o sector mineiro “é também central nesta relação”. Angola é o quarto maior produtor de diamantes em termos de valor e metade das suas exportações são destinadas ao Dubai — de onde as pedras são reexportadas para outros países. A importância que este “hub” tem ganho no comércio global serve o “objectivo angolano de usar o sector diamantífero como dinamizador económico”.
“Em suma, Angola tem no Dubai um parceiro estratégico para desenvolver e construir infra-estruturas essenciais, impulsionar as exportações e assim contribuir para a diversificação da sua economia”. Os EAU, e o Dubai em particular, têm “extensas ligações aéreas e marítimas, processos alfandegários eficientes e instalações modernas de transporte e logística, para se consolidarem como o principal actor logístico do Médio Oriente e se afirmarem como eixo central do comércio e investimento global”, adianta.
“Os investimentos estratégicos em África, como no caso da DP World e da Emirates, apontam para a crescente consideração estratégica com que os EAU olham para o continente”, afirma o analista. África, por outro lado irá “tornar-se-á crescentemente vital para os interesses dos EAU, em termos de diplomacia, comércio e investimento externo e, inevitavelmente, segurança nacional”.