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Desenvolvimento africano deve ser pensado ao nível do cidadão

Desenvolvimento africano deve ser pensado ao nível do cidadão


por Natasha Lubaszewski *

Durante dois dias, especialistas africanos e brasileiros reuniram-se em São Paulo, no 5º Fórum Brasil-África, para avaliar oportunidades e projectos de colaboração da maior economia sul-americana com os países africanos. Mais do que as infra-estruturas, há muito identificadas como um dos principais constrangimentos às trocas comerciais inter-africanas, as novas tecnologias estão a abrir novas oportunidades de desenvolvimento centradas no 
cidadão, defende o presidente do Instituto Brasil África (IBA), organizador do Fórum.

“Quando se pensa em inovação e tecnologia, se pensa muitas vezes em um contexto maior de infraestrutura, mas o cidadão também precisa ser compreendido", disse João Bosco, presidente do IBA, ao Africamonitor.net. "Um agricultor no interior do Zimbábue, por exemplo, precisa ter condição de vender os seus recursos e muitas vezes isto pode ser feito por um aplicativo de celular, mas para isso é necessário que o sujeito possa comprar o equipamento e é necessário também que ele tenha acesso a internet”, explica.

O Fórum, cuja quinta edição decorreu entre 23 e 24 de Novembro, congrega líderes de Governo, sector privado e organizações da sociedade civil. A perspectiva do IBA é que a "receita" para o desenvolvimento é congregar os diversos atores em torno de uma agenda conjunta, para chegar a resultados concretos. Nesse sentido, diz João Bosco, o governo exerce um papel importante, no que diz respeito a legislação, por exemplo, e as empresas privadas exercem o seu papel em termos de interesse de investimento.

De acordo com o presidente do IBA, as principais áreas de investimento em inovação em África, identificadas no Fórum, foram Infraestruturas, Educação, Saúde e Agricultura.

A agricultura foi mesmo considerada um tema fundamental e imperativo, no qual se abrem oportunidades importantes de cooperação por parte de Universidades brasileiras e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), por exemplo.
No campo das infraestruturas, foram apresentadas ideias (algumas já concretas) de diversificação por parte de alguns países, principalmente no Leste do continente africano, para uma plataforma de infraestrutura continental, sendo reconhecido como necessário para aumentar o potencial de comércio.

Na Saúde, Bosco destaca a declaração do presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que durante o Fórum demonstrou o desejo e abertura da instituição para entrar na agenda do continente africano. A Positivo, empresa brasileira envolvida na produção de equipamentos em África, é outro exemplo apontado de projetos de difusão de conhecimento.

João Bosco destaca ainda experiências que foram apresentadas durante o Fórum, como uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Ceará (Brasil) para tratamento de pacientes com queimaduras de primeiro a terceiro grau, que já é utilizada em hospitais brasileiros, havendo agora intersse em comercializar a tecnologia no contexto africano. Outra foi a exposição da NAFDAC, uma instituição nigeriana de vigilância sanitária, com experiência no controlo de medicamentos falsificados, passível de aplicação também no contexto brasileiro, visto que ambas as populações rondam ambas os 200 milhões de pessoas.

O tema da agenda do Fórum Brasil-África do próximo ano será o “empoderamento da juventude”, estando prevista a participação de representantes governamentais, do setor privado e de Organizações Não Governamentais.

 * A autora é mestranda em Estudos Africanos no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP)