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O “Jogo diplomático” da Guiné-Bissau, entre a Nigéria e Angola
É hoje o maior desafio do governo da Guiné-Bissau: tentar envolver Angola nas reformas em curso no país, sem com isso assustar os seus parceiros regionais, que têm militares no terreno e desconfiam das intenções angolanas. As indicações disponíveis até agora são de que há compreensão do lado de Luanda para este necessário “jogo de cintura diplomático”. Mas os “sustos” têm sido frequentes.
O Africa Monitor Intelligence refere que algumas autoridades em Bissau viram como um mau sinal a apagada presença de Angola na Conferência Internacional de Doadores da Guiné-Bissau, no final de março. Nas semanas anteriores, chegou mesmo a considerar-se que Luanda estaria ausente. Isto quando todos os sinais eram de reaproximação, ainda que muito cautelosa.
A notícia da possível ausência chegou a ser interpretada como uma manifestação de desagrado, em particular face a anteriores declarações públicas do Primeiro-Ministro, Simões Pereira, numa cimeira da CEDEA em Acra, no mês anterior.
Simões Pereira usou de termos elogiosos para referir-se ao papel desempenhado pela Nigéria na Guiné-Bissau. Igualmente, o alcance da abertura manifestada à participação da CEDEAO no processo de reforma das forças de defesa e segurança foi considerado excessivo, adianta o Africa Monitor Intelligence.
Antes da Conferência de Doadores, fora suspensa inesperadamente, a pedido das autoridades angolanas, uma viagem que Simões Pereira tinha previsto efectuar a Luanda. Em paralelo, o novo embaixador em Bissau, Daniel Rosa, nomeado em Fev.2015, ainda não tinha ocupado posto, ao contrário do que seria normal. Apesar dos maus sinais, a modesta representação oficial de Angola na Conferência, foi apenas devida a problemas na preparação da missão, por parte das autoridades angolanas.
Angola era ator principal no processo de paz da Guiné-Bissau, até ao golpe de Estado de abril de 2012. A missão que tinha no terreno, Missang, foi obrigada a abandonar Bissau, num dos maiores embaraços diplomáticos recentes para Luanda. Foi substituída por uma missão dos países da região, ECOMIB, essencialmente financiada pela Nigéria. O afastamento de Luanda foi contínuo, até que a eleição de um novo governo democrático e afastamento de líderes militares golpistas permitiu retomar contactos.
O golpe de Estado de 2012, por via do qual a Nigéria e a CEDEAO aumentaram exponencialmente influências na Guiné-Bissau, apresentou uma dinâmica contrária ao PAIGC, “justificada” por alegadas inclinações e políticas do mesmo a favor de uma aproximação à comunidade lusófona, no quadro da qual se inseria a presença militar de Angola no país.
Segundo o Africa Monitor Intelligence, o discurso de Simões Pereira na cimeira da CEDEAO foi visto pelas autoridades angolanas, ao mais alto nível, não só com compreensão, mas até como hábil. A posição da Nigéria como potência regional obriga os países da sub-região a manterem com ela boas relações de todo o tipo.
Além disso, o facto de Simões Pereira ter sido secretário-executivo da CPLP e de chefiar agora um governo no qual prepondera o PAIGC, partido de que também é líder, obriga-o a fazer ostensivas demonstrações de boa vontade em relação à Nigéria, tal como as patentes nas referidas declarações.
O apoio de Angola ao processo de paz guineense é visto pelos analistas como importante. Tal como a necessidade de não melindrar a Nigéria.