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Angola instrumental na afirmação da Rússia em África
Angola é um objetivo central na estratégia económica externa da Rússia para África até 2020. Além de um mercado importante para as suas indústrias de Defesa e Aeroespacial, é um parceiro para a afirmação no Atlântico Sul e no Golfo da Guiné. Para o investigador Gustavo Plácido dos Santos, a aproximação entre a potência euroasiática e Angola é um “desafio” para o Ocidente.
Em comentário divulgado pelo Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), Plácido dos Santos defende que a NATO e o Ocidente “estão a perder terreno em África para a Rússia”. E Angola “é crucial neste contexto”: um “país estratégico para qualquer potência que deseje expandir os seus interesses em África, no Golfo da Guiné e no Atlântico Sul”.
“O aprofundamento de relações entre Luanda e Moscovo não só possibilita o acesso a um mercado de elevado potencial, mas também contribui para a afirmação da Rússia numa região estrategicamente importante para as potências ocidentais — o Golfo da Guiné e o Atlântico Sul”, afirma.
Angola, adianta, “é um dos países politicamente mais estáveis na região e é fundamental para a própria estabilidade regional, proporcionando a Moscovo maior protagonismo global, na medida em que se mostra empenhado na promoção da segurança na região”.
Em 2013, o governo angolano assinou um contrato com a Rosoboronexport, no valor de mil milhões de dólares, para a provisão de armamento e equipamento militar. A mesma empresa é responsável pelo lançamento do primeiro satélite de telecomunicações angolano, o Angosat 1, que será lançado para órbita a partir da Rússia em 2017.
Para Plácido dos Santos, o envolvimento russo a todos os níveis do projeto do Angosat, e em particular o facto de um dos centros de controlo estar localizado na Rússia, permite admitir que o satélite “se torne em mais um instrumento para os serviços de informações e militares russos”. Poderá aumentar o conhecimento sobre as “estratégias e capacidades militares e diplomáticas do Ocidente”, a par de “maior capacidade de vigilância sobre a África Austral e o Golfo da Guiné”.
Na senda de um maior envolvimento entre ambos os países no sector energético, “várias empresas estatais russas já mostraram sinais de querer cooperar com a Sonangol no desenvolvimento conjunto de campos de petróleo e gás, tanto em Angola como na Rússia”, afirma o analista do IPRIS.
No âmbito das comemorações dos 40 anos das relações diplomáticas entre os dois países, em Julho de 2015, pela primeira vez em 25 anos, navios da marinha de guerra russa, pertencentes à frota do Mar Negro, fizeram uma escala no porto de Luanda, sublinha Plácido dos Santos. Enquanto isso, os países da NATO parecem estar a perder terreno, alerta.
Para o analista, os Estados-membros da NATO devem apostar em “parcerias estratégicas com as grandes potências africanas”, que assegurem boas relações e estabilidade no plano institucional, “essencial para a sustentabilidade das relações Ocidente-África e para conter a crescente presença das potências emergentes no continente. “Apenas desta forma conseguirá o Ocidente competir com a ofensiva russa no continente africano”, além de apoiar a consolidação das instituições democráticas.
No plano dos fornecedores militares de Angola, a China tem vindo a tentar ganhar espaço em relação à Rússia, que é o maior exportador (continuar a ler).