Acesso Livre
Notas do Editor: A (in)governabilidade
"No tempo de Zedú (José Eduardo dos Santos), coisas destas seriam impossíveis".
Assim desabafava comigo esta semana um amigo angolano, a propósito da ruptura do fornecimento de combustíveis em Angola.
Claro que nos últimos anos da governação de dos Santos, as dificuldades financeiras da Sonangol já tornaram frequentes rupturas de abastecimento (uma delas embaraçosa, em cima das eleições de 2017). Ele referia-se, de modo mais geral, à ineficácia da Presidência em questões nevrálgicas.
E aplicava o mesmo raciocínio ao recente caso da falhada concessão da licença do 4º operador de telecomunicações. Se Saturnino ficou, com a sua demissão, com o estatuto de bode expiatório da "crise dos combustíveis", o ministro das Telecomunicações continua em funções.
Também em relação à concessão da nova transportadora para voos domésticos podem ser levantadas as mesmas questões sobre a capacidade de controlo de processos chave de reforma.
Começam, de facto, a avolumar-se questões sobre a eficácia da equipa de João Lourenço - mais do que em relação à sua sinceridade de propósitos de reforma do país. Da situação na Justiça, demos aqui conta há poucas semanas.
Em todo o caso, e dada a urgência em atrair investimentos, são muito maus sinais que o país está a passar para fora.
O descontentamento social, esse continua a crescer.
E dentro de algumas semanas, as exéquias fúnebres de Jonas Savimbi, servirão para uma espécie de barómetro desse descontentamento.
De outro "mais velho" falamos também na última edição do Africa Monitor - Joaquim Chissano e o papel central que chamou a si no último Comité Central da Frelimo. Na Matola, evitou-se o pior cenário - uma luta entre facções - mas são muitos os problemas que o partido tem que enfrentar até às eleições de Outubro.
Ainda no último Africa Monitor, as aproximações entre o governo de Cabo Verde e o Fundo Monetário Internacional.Olhamos ainda para o "Compacto Lusófono", tão propalado pelo Governo português, e que captou a atenção das empresas. Mas que, segundo apuramos, deverá trazer poucas melhorias no acesso a financiamento pelas empresas portuguesas, nas actuais condições.