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Africa Monitor 1187, Notas do Editor: O futuro da Frelimo nas mãos de Samora Machel Jr.?
Samora Machel Jr. tem um trajecto invulgar na Frelimo.
Cordato e discreto, ninguém diria que é filho de Samora Machel. A sua mãe é uma lenda da Frelimo, Josina Machel.
O apelido que herdou do pai é símbolo maior de uma espécie de pureza de princípios da Frelimo, no pós-independência - o total contraste com aquilo que rima com o partido hoje: dívidas ocultas, desvios de dinheiro, negócios de toda a ordem.
Apesar do peso natural que herdou, só tardiamente emergiu como uma figura central no partido. Antes das autárquicas de 2018, "Samito" - nome pelo qual é mais vulgarmente conhecido - achou ter chegado a sua hora e, passo a passo, tentou chamar a si o lugar de candidato da Frelimo ao principal município do país, Maputo.
Mas Filipe Nyusi travou-lhe as ambições, muito provavelmente com receio de que "Samito" pudesse ofuscá-lo, com as presidenciais deste ano à porta. Ou mesmo que tentasse disputar a nomeação para as presidenciais pela Frelimo.
Agora, Nyusi poderá ter de dar o braço a torcer. Porque, conforme damos conta na edição desta semana do Africa Monitor, a ameaça de "Samito" sair do partido e avançar com uma candidatura independente é real. E "Samito" -sem máculas no seu currículo político, com um apelido que simboliza as origens da Frelimo, e forte apoio entre os jovens da Frelimo - pode fazer danos nas aspirações de vitória do partido. Principalmente tendo presente que, nas últimas autárquicas, a vantagem sobre a oposição foi de apenas 2%. Nos bastidores, a agitação é grande, e não é para menos.
Também de Moçambique, informações sobre os danos que a associação, por vezes injustificada, a Ndambi Guebuza - filho do ex-presidente moçambicano detido por ligação ao caso das "dívidas ocultas" - está a causar às aspirações de Salimo Abdulá em entrar nos negócios do gás natural.
Em semana de "show" do presidente Marcelo Rebelo de Sousa em Angola - e que extraordinária recepção tem tido, comprovando a força dos laços entre os dois povos - o tema das dívidas às empresas portuguesas voltou ao de cima. Temos dado conta da situação nas grandes empresas, e na edição do AM desta semana focamo-nos nas mais pequenas, relatando casos em que as dívidas nem sequer foram certificadas.
Também de Angola, informações sobre a preocupação no Governo angolano com o impacto que as cerimónias em torno das exéquias de Jonas Savimbi pode suscitar entre a população.
Ainda na edição desta semana, focamo-nos nas eleições na Guiné-Bissau, e em particular no forte receio de que os resultados sejam rejeitados pelos partidos perdedores, e mesmo de que possam dar azo a situações de violência. Tudo isto, enquanto no plano diplomático se mantém acesa a ameaça de sanções sobre aqueles que perturbem o processo eleitoral.
Finalmente, um retrato de como os assuntos africanos (não) estão a ser tratados ao nível da administração Trump, e do Departamento de Estado.