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Africa Monitor 1186, Notas do Editor: O Governo português dá-se ao respeito em Angola?
João Lourenço disse que está resolvido.
António Costa disse que está resolvido.
Mas o problema das dívidas às construtoras portuguesas em Angola não está, de todo, resolvido.
E, entretanto, a construtora MSF faliu, deixando centenas de trabalhadores no desemprego, em grande parte por não conseguir recuperar montantes investidos em Angola.
Perante uma passividade gritante do Governo português - apenas explicável pelo medo de fazer da questão "um novo irritante" - o problema arrasta-se. E outras construtoras, de maior dimensão, podem seguir o caminho da MSF muito em breve.
É este o nosso destaque no Africa Monitor 1186, o último antes da visita do PR português a Angola.
De Cabinda, chegam-nos informações de um crescendo de tensões entre as autoridades e movimentos autonomistas/ independentistas. Uma situação preocupante, depois de o início do mandato de João Lourenço ter sido marcado por uma distensão das relações com a sociedade civil local. Foi a Cabinda, aliás, a primeira visita "doméstica" de Lourenço depois de eleito. Desde finais de 2018, a situação aparenta estar a voltar à forma inicial, ie aquela que prevalecia no tempo de José Eduardo dos Santos.
Em Moçambique, temos dado conta em edições anteriores das brutais repercussões na Frelimo da detenção de Manuel Chang na África do Sul a pedido das autoridades norte-americanas. Hoje, trazemos dados sobre as ameaças veladas que sectores dos serviços de informação vêm fazendo ao PR Filipe Nyusi, que prossegue a sua estratégia de impedir a extradição de Chang para os EUA - e, simultaneamente, de explorar o processo norte-americano em seu benefício, assumindo-se como paladino da Justiça e, pelo caminho, abrindo caminho à declaração da ilegalidade das dívidas EMATUM/ MAM/ ProIndicus. Estratégia essa altamente penalizadora para a imagem do seu sucessor, Armando Guebuza. Mas que, ironicamente, pode salvar Guebuza de males maiores, dado o risco de Chang revelar dados comprometedores para o regime.
Ainda de Moçambique, dados sobre o abalo nos planos das petrolíferas Anadarko e ExxonMobil, devido aos ataques de que foram alvo trabalhadores de empresas sub-contratadas para os projectos de gás natural em Cabo Delgado. Isto numa altura em que se aguarda o anúncio da decisão final de investimento da Anadarko - e, de um modo mais abrangente, se joga o futuro da economia moçambicana, que depende em larga medida dos investimentos a realizar no GNL, e em que qualquer novo atraso pode complicar seriamente as (já complicadas) projecções económicas e financeiras, sujeitas a elevados riscos.
Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos, esteve em Cabo Verde na semana passada, para dar conta do andamento da venda do banco participado, BCA, o maior do país. No Africa Monitor trazemos detalhes sobre a reunião que teve com directores do BCA, e o que está a atrasar a venda do banco.
Finalmente, informações sobre as diferentes perspectivas da comunidade internacional sobre ameaça de sanções a responsáveis políticos guineenses que venham a obstruir o processo eleitoral em curso. E, no vizinho Senegal, os meandros da reeleição de Macky Sall, que deverá aproveitar ao PR guineense, José Mário Vaz.
Yiya emsebenzini*!
* "Ao trabalho", em dialecto xhosa