Africa Monitor

Acesso Livre

Paulo Guilherme

França leva a melhor na “corte” a dos Santos


Angolagate? É passado – “C´est passé”! A visita de José Eduardo dos Santos a França marca o início do relançamento das relações com Paris. E os franceses parecem ter levado a melhor sobre os britânicos, que também vigorosamente vinham "cortejando" o presidente angolano.

Alex Vines, diretor do departamento África “think tank” britânico Chatham House, afirma que os dois dias de visita de Santos a França, onde se avistará com o presidente Hollande e falará no Senado, representam uma “melhoria significativa” nas relações franco-angolanas. São também sinal de que Angola pretende “reinvestir na sua relação com parceiros ocidentais”.

O timing da visita “não é coincidência”, diz Vines. “Nos últimos 18 meses, a presidência angolana tornou-se mais ambiciosa internacionalmente, possivelmente assinalando que Santos procura estabelecer um legado dos seus 34 anos no poder”. Em comum, Paris e Luanda têm o interesse na África Central, em particular na região dos Grandes Lagos.

“A importância que Paris deu a uma melhoria das relações franco-angolanas não diz apenas respeito ao crescimento do comércio bilateral, mas também ao reconhecimento de que, no que concerne à África Central, Angola é cada vez mais um Estado-âncora para a paz e segurança regional”, adianta.


Sombra do "Angolagate"


Passaram-se vinte anos desde a última visita de Santos, quando Angola estava em guerra civil e o comércio dos dois países era de petróleo angolano para França e armamento no sentido inverso. Armamento que acabou por deitar por terra as relações diplomáticas.

Dos Santos chega a Paria acompanhado pelo Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, Edeltrudes Costa, e Ministros da Relações Exteriores, das Finanças, dos Petróleos, George Chicoty, Armando Manuel, Botelho de Vasconcelos, além da ministra do comércio, Rosa Pacavira.

Os media oficiais angolanos estão a dar grande cobertura à visita. A Rádio Nacional de Angola fala de “uma nova era de cooperação económica e concertação política entre a França e Angola”, em que “Paris vê com bons olhos os esforços de Luanda, na pacificação da região dos grandes lagos, particularmente, na Republica Centro Africana, e na república democrática do Congo, duas importantes zonas de influência francesa que vivem situações de instabilidade”.

Historicamente, dos Santos manteve uma ligação próxima com França, onde passava férias de verão. E os homens de negócios franceses, destacadamente os do petróleo, sempre tiveram portas franqueadas em Luanda.

Mas a investigação judicial francesa ao comércio de armas, entre 1993-2000, veio “envenenar” o clima. Dos perto de 800 milhões de dólares que circularam, mais de 50 milhões terão sido desencaminhados por via de subornos.

Com grande embaraço para Angola, a Justiça francesa acusou Pierre Falcone e Arcady Gaydamak, dois comerciantes de armas detentores de passaportes angolanos, com ligações próximas à presidência, a quem alegadamente vendiam armas. Entre os 42 acusados estavam ainda Jean-Cristophe Miterrand, filho do ex-presidente francês.

A sentença é conhecida no final de 2009: os destacados políticos franceses Charles Pasqua e Jean-Charles Marchiani são condenados por ter aceite subornos de Gaydamak e Falcone, embora já em abril de 2011 tenham ganho o recurso. Os dois comerciantes de armas, alegados corruptores, saíram em liberdade.

Durante todo este período, os negócios das empresas francesas em Angola foram prejudicados. Mas seguiu-se um trabalho incansável da parte dos franceses, que culminou com um encontro entre Santos e o ex-presidente Nicolas Sarkozy em 2007.

Sem perder tempo, Sarkozy foi a Angola no ano seguinte, onde deixou um convite a dos Santos para ir a Paris. Depois de sucessivos adiamentos, e de uma visita do chefe da diplomacia francesa a Luanda em novembro, com uma delegação comercial de peso, Santos regressa a França.


Londres e Washington “de olho”


Em aberto está também uma vista ao Reino Unido, a primeira em 22 anos. No final do ano passado, o governo britânico incluiu Angola no grupo de países “parceiros para a prosperidade”, aqueles com que pretende estreitar laços económicos. Alex Vines, da Chatham House, acredita mesmo que a diplomacia britânica pode tirar lições dos colegas franceses.

“Os serviços britânicos foram lentos a responder ao interesse súbito de Angola numa visa presidencial ao Reino Unido”, afirma Vines em artigo para a Chatham House. O investigador sugere que Londres envie a Luanda o secretário para as Relações Exteriores, William Hague. Ali deverá escalar em breve o seu homólogo norte-americano, John Kerry.