Africa Monitor

Análise

Luís Bernardino*: Eleição de Angola para Conselho de Segurança ONU é oportunidade para CPLP ser ouvida

Luís Bernardino*: Eleição de Angola para Conselho de Segurança ONU é oportunidade para CPLP ser ouvida

Politicamente, a entrada de Angola para o conselho de Segurança das Nações Unidas (CS/NU), substituindo o Ruanda, é uma vitória de e para Angola...como país e certamente da sua política externa. Constata-se que Angola tem desenvolvido nos últimos anos, um conjunto de iniciativas político-diplomáticas no espaço regional de influência e no continente, muito pela sua ação na União Africana...muito pelo seu papel no Conselho de Paz e Segurança da União Africana (CPS/UA). A presença de Angola no CPS/UA e agora no CS/NU faz parte de uma estratégia político-diplomática, e de influência que tem projectado Angola no contexto regional, continental e agora, abre-lhe as portas da dimensão mais global...e o ministro Chikoty tem estado nesse processo...
Agora, terá de ter uma agenda de um país que se pretende mostrar como produtor de segurança, que no quadro regional da Arquitectura de Paz e Segurança Africana (APSA), onde vem assumindo na SADC, na CEEAC e na Conferência dos Grandes Lagos, uma ação determinante para os propósitos das organizações, e no âmbito continental onde se prepara para ser um dos poucos países com capacidade para integrar uma Força de Reação Rápida na UA (que pode intervir no inicio dos conflitos) e a dimensão global, onde creio que Angola poderá, oportunamente, aproveitar esta janela de oportunidade e projectar meios e forças para as missões das NU, representando um novo desafio para Angola e para as suas Forças Armadas. Por outro lado, terá na agenda a vontade de projectar a sua influência num quadro mais internacional, apostar numa maior visibilidade e projeção do país e certamente potenciar essa intenção com o reforço da sua diplomacia e da economia. Creio ainda que ao assumir esta posição, num contexto de grande exigência para as questões da segurança global, invoca a sua experiência e história recente, podendo mediar e contribuir para a solução pacífica dos múltiplos conflitos regionais, não só em África mas no mundo...vamos ver como será neste primeiro ano...
Em termos de dossiers, terá à partida a seu cargo as questões da paz e da segurança no continente Africano (onde sendo o único candidato este ano, terá durante o ano de 2015 a companhia do Chad e da Nigéria) e que representando a África Subsaariana, os países Lusófonos, os estados membros da SADC e da CEEAC, terá imensos "olhos" e solicitações nos espaços regionais e nas organizações que refiro. Terá também de se afirmar como um país que vai contribuir para a própria missão do CS/NU, obrigando a um maior acompanhamento de todos os dossiers dos problemas da segurança global e a um maior envolvimento de meios humanos, materiais e financeiros nas missões de apoio à paz (PKO) sob a égide das NU. Terá ainda uma importante palavra a dizer na temática da segurança marítima e na segurança energética, nas questões do Golfo da Guiné, que afecta Angola directamente e que podem contribuir para valorizar as suas Forças Armadas e o país
Angola sai reforçada na sua dimensão político-diplomática, mas sai também reforçado na sua capacidade de influenciar regionalmente e estou certo na capacidade de intervir (militarmente ou não) quando for necessário e num quadro de cooperação regional e continental. A presença no CS/NU também vai contribuir para um reforço da atenção global sobre os problemas que essas regiões afectam e eventualmente pode contribuir para um incremento de programas de apoio ao desenvolvimento e de segurança realizadas pelas NU nessas áreas. Por outro lado terá de saber conjugar os seus interesses conjunturais e das organizações regionais com a dimensão global, os interesses e os valores das NU...o que vai certamente constituir um desafio importante para a diplomacia e para os lideres angolanos num futuro próximo.
Da mesma forma para a Lusofonia e para a CPLP representa uma voz própria no órgão mais importante da segurança global...mais que não seja dá visibilidade à língua portuguesa e pode contribuir "de dentro" para a tomada de decisões importantes relativamente aos interesses da Comunidade e de outros países neste contexto específico. É certamente importante para a Comunidade saber tirar vantagem desta oportunidade e poder fazer-se ouvir...vamos ver se Angola recebe o apoio necessário dos outros estados-membros e da Comunidade para o fazer... O exemplo mais concreto será a breve trecho com o apoio das NU à Guiné-Bissau, onde será importante um apoio mais consistente e orientado das NU (e da CPLP) na recuperação do país pós-eleições e creio que Angola, a par da Nigéria) vão ser interlocutores de primeira linha.

 

Investigador Doutorado do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL)