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Editoriais envenenam relações Portugal-Angola

Editoriais envenenam relações Portugal-AngolaA sugestão do Jornal de Angola, na quarta-feira, de que os angolanos deixem de investir em Portugal é o mais recente ponto alto de uma quezília nos “media” dos dois países. Por perceber está que impacto ao certo podem vir a ter numa relação política e económica que nos últimos anos se tornou quase umbilical os editoriais do jornal "do regime", em particular três visivelmente duros publicados desde o final de 2012 .

“Jogos perigosos” (http://jornaldeangola.sapo.ao/19/42/jogos_perigosos) é o título do primeiro editorial do Jornal de Angola (JA), de Novembro de 2012, em resposta a uma notícia do semanário português Expresso sobre a abertura de um inquérito-crime em Portugal contra três altos dirigentes angolanos, figuras próximas de José Eduardo dos Santos. Faz várias comparações entre a História e a actualidade portuguesa para demonstrar a incapacidade que as elites portuguesas têm em compreender a grandeza do seu povo e a dimensão da sua História.

"As elites portuguesas odeiam Angola e são a inveja em figura de gente", afirma o jornal oficioso do governo angolano. Falsidade e difamação são as palavras que caracterizam a notícia sobre a investigação em curso, uma “fuga de informação” proveniente da Procuradoria-Geral da República portuguesa.

A 6 de Fevereiro, altura em que o chefe da diplomacia portuguesa, Paulo Portas, se encontrava de visita ao país, sai um novo editorial do mesmo JA, desta feita com um teor diferente. Com o título era “Crescemos juntos” (http://jornaldeangola.sapo.ao/19/42/crescemos_juntos), apontava Portugal como mais do que um “país amigo”.

"Os amigos conhecem-se nos momentos difíceis. Os angolanos sabem estender a mão da amizade a todos os que precisam, sem olhar a conveniências ou retornos. Portugal é um país amigo e mais do que isso: o executivo definiu-o como um parceiro estratégico", é como começa o primeiro parágrafo do texto". Paulo Portas é considerado, neste editorial, um político diferente de outros que o JA acusa de descerem ao “patamar do insulto contra os governantes angolanos”.

Além de destacar as referências de Paulo Portas à importância do crescimento das exportações portuguesas para Angola, o JA sublinha também os "esforços gigantescos" nos dois países para a criação de riqueza e postos de trabalho, frisando que, se for possível criar sinergias, Portugal e Angola vão "seguramente crescer juntos".

Mas um novo texto intitulado “Portugal e Jonas Savimbi” (http://jornaldeangola.sapo.ao/19/43/portugal_e_jonas_savimbi), publicado já no domingo passado e assinado pelo director do diário estatal angolano, José Ribeiro, revela “desconfiança” em relação à boa-fé de Portugal nas relações bilaterais.

Este editorial surge, à semelhança do texto datado de 12 de Novembro, em resposta a uma notícia divulgada sábado pelo semanário Expresso. O Jornal português noticiou que o PGR de Angola, José Maria de Sousa, está a ser investigado em Portugal por  suspeita de fraude e branqueamento de capitais.

É feita referência à visita recente de Paulo Portas a Angola, e José Ribeiro escreve que “soa mal e gera muita desconfiança quando vem a Luanda um ministro do governo de Lisboa afiançar que a amizade entre Portugal e Angola continua de pé e os investimentos angolanos são ‘bem-vindos’ em Portugal”. O diretor afirma mesmo que o “império mediático português” tem sido “sempre um fiel servidor de Jonas Savimbi”.

Esta quarta-feira, a mesma publicação volta a atacar fortemente Portugal, num editorial de nome “Alvos selectivos”. O JA defende no texto o fim dos investimentos angolanos em Portugal. “As elites portuguesas corruptas decididamente não querem nada com os investidores angolanos. Vai sendo tempo de responderemos na mesma moeda (…) Quem promove bandidos a heróis não é de confiança”, refere o jornal que acusa Portugal de assassinato de carácter de dirigentes angolanos através do Expresso.